Estudos randomizados recentes mostraram que a taxa de eventos combinados periprocedimento são similares entre a angioplastia carotídea e a endarterectomia carotídea. Embora a somatória seja similar, os eventos são diferentes, com mais infartos para a endarterectomia e mais AVC (principalmente AVC menores) para a angioplastia. A redução desses AVC foi o objetivo de muitos dispositivos, mas de poucas drogas.
As estatinas são extensamente usadas, não só por reduzirem o colesterol mas também por seus efeitos pleitrópicos. Além disso, há evidência clara de que diminuem o risco de infarto e de novo AVC em pacientes com um AVC em curso.
O pré-tratamento com estatinas reduz o risco de infarto periprocedimento na angioplastia coronariana e reduz o risco de AVC e morte na endarterectomia carotídea.
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É chamativo que as estatinas tenham acumulado evidência em todos os diferentes contextos clínicos antes mencionados mas não assim na angioplastia carotídea. Isso motivou o presente estudo, que visa não só a provar sua utilidade mas também a dar alguma ideia da dose necessária no caso de as mesmas serem efetivas.
Foram incluídos 397 pacientes com estenose carotídea sintomática (≥ 50 de estenose na angiografia convencional) tratados com angioplastia em 2 hospitais universitários. Na definição da complicação periprocedimento incluíram-se morte, infarto e AVC dentro do primeiro de realizada a angioplastia.
O pré-tratamento foi dividido em três categorias, de acordo com a dose administrada de atorvastatina: sem dose (n = 158; 39,8%), dose padrão (< 40 mg de atorvastatina, n = 155; 39,0%) e altas doses (≥ 40 mg; n = 84; 21,2%).
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A taxa de complicações periprocedimento nas três categorias de dose foi de 12%, 4,5% e 1,2%, respectivamente.
Após realizar o ajuste correspondente, observou-se uma relação inversamente proporcional entre a taxa de risco de complicações e a dose de atorvastatina (sem atorvastatina vs. dose padrão, OR 0,24 e vs. altas doses, OR 0,11; p para a tendência = 0,01).
A administração de antiplaquetários também foi um fator independente de complicações periprocedimento (OR 0,18), embora ao contrário do que ocorre com as estatinas, dificilmente nos esqueçamos de administrar os antiplaquetários.
Conclusão
Este trabalho mostra que o pré-tratamento com estatinas poderia reduzir as complicações periprocedimento de forma dose-dependente em pacientes sintomáticos que recebem angioplastia carotídea.
Comentário editorial
Atualmente, os guias da prática clínica não recomendam o uso de estatinas antes da realização da angioplastia carotídea, e muito menos uma dose específica. No entanto, isso ocorre simplesmente por falta de evidência (pelo menos até agora).
Neste trabalho observou-se uma taxa de complicações de 6,8% em pacientes sintomáticos, o que é similar a tudo o que foi publicado. Contudo, ao considerar o grupo que recebeu altas doses de atorvastatina, o risco se reduziu a menos da metade (3,3%).
Este impacto dose-dependente poderia ser explicado pelos efeitos pleitrópicos das estatinas (antitrombóticos e pró-fibrinolíticos), já que não se encontrou relação entre os níveis de colesterol e os eventos.
As placas sintomáticas são, sem dúvida, vulneráveis e instáveis, motivo pelo qual as estatinas poderiam estabilizá-las e diminuir os detritos embólicos.
Título original: Dose-Dependent Effect of Statin Pretreatment on Preventing the Periprocedural Complications of Carotid Artery Stenting.
Referência: Jeong-Ho Hong et al. Stroke. 2017 Jul;48(7):1890-1894.
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