A recente publicação de vários relatórios sobre o risco de catarata, neoplasias cerebrais do lado esquerdo, aterosclerose subclínica e dano cromossômico em Cardiologistas Intervencionistas aumentou a preocupação sobre a exposição à radiação na sala de cateterismo.
O fato de reconhecer ditos riscos criou a demanda sobre novas formas de proteção. Infelizmente, as mesmas se enfocaram no operador principal, embora seja bastante óbvio que toda a equipe que trabalha na sala está exposta.
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O presente trabalho avaliou o uso de telas plumbíferas acessórias para proteger o pessoal que circula pela sala de cateterismo, como é o caso dos Técnicos Radiologistas e dos Enfermeiros.
Com o objetivo de dar a conhecer ditas telas plumbíferas acessórias utilizou-se dosimetria em tempo real dos Técnicos e Enfermeiros que participaram de 764 procedimentos consecutivos.
O estudo se dividiu em duas fases: na primeira (n = 401) utilizou-se a proteção padrão (o que incluiu as telas de proteção para o operador principal); na fase 2 (n = 363) foram somadas à proteção padrão as telas acessórias, que foram localizadas entre o paciente e cada um dos membros da equipe. A exposição à radiação foi relatada como a dose efetiva normalizada ao produto da área.
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O uso das telas acessórias reduziu em aproximadamente 62,5% a dose nos Técnicos (fase I: 2,4 µSv/[mGy x cm²] x 10⁻⁵ vs. fase II: 0,9 [2,8] µSv/[mGy x cm²] x 10⁻⁵; p < 0,001) e por volta de 63,6% nos Enfermeiros (fase I: 1,1 [3,1] µSv/[mGy x cm²] x 10⁻⁵ vs. fase II: 0,4 [1,8] µSv/[mGy x cm²] x 10⁻⁵; p < 0,001).
Na análise multivariada, o uso das telas acessórias se associou de maneira independente e significativa a uma redução da dose tanto em Enfermeiros quanto em Técnicos.
Conclusão
O uso de telas plumbíferas acessórias é relativamente simples e protege efetivamente todo o pessoal na sala de cateterismo com uma redução de aproximadamente dois terços da dose em Enfermeiros e Técnicos.
Comentário editorial
Já tinha sido demonstrado anteriormente que as telas diminuem a dose de radiação no operador principal, mas este é o primeiro estudo publicado que comprova um benefício similar no resto do pessoal que trabalha na sala de cateterismo, o que pode ter uma grande implicância na segurança ocupacional.
Observaram-se diferenças específicas nas doses dos Enfermeiros e dos Técnicos, as quais podem ser atribuídas à diferente mobilidade de cada um dentro da sala:
- Por um lado, estão os técnicos, que em geral estão parados ao lado do operador principal e a uma distância relativamente fixa da fonte de radiação. Devido a dita distância fixa, a dose que recebem depende diretamente da dose de radiação do procedimento, e a proteção da tela foi o único fator que alterou a equação.
- Ao contrário dos Técnicos, os Enfermeiros se movimentam por toda a sala e a distância da fonte de radiação se modifica permanentemente. Assim, os procedimentos que requereram que o Enfermeiro estivesse mais perto do paciente para administrar uma droga endovenosa, administrar uma carta de antiagregante plaquetário ou colocar uma máscara de oxigênio (entre outras tarefas), associaram-se a uma maior dose de radiação.
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Em um procedimento diagnóstico no qual se decide continuar com angioplastia, o Enfermeiro deve necessariamente se aproximar do paciente para realizar as tarefas antes mencionadas, enquanto o operador principal continua pisando o pedal de fluoroscopia. Isso produz um aumento de até 425% mais de radiação para o Enfermeiro. Foram justamente essas atividades específicas que aumentaram drasticamente a dose nos enfermeiros. As telas protegeram todos e deveriam ser utilizadas por todos.
Título original: Radiation Exposure Among Scrub Technologists and Nurse Circulators During Cardiac Catheterization. The Impact of Accessory Lead Shields.
Referência: Ryan D. Madder et al. J Am Coll Cardiol Intv 2017, Article in press.
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