Tabagismo e seu impacto na doença cardiovascular 10 anos depois de uma angioplastia coronariana

O tabagismo é um fator de risco bem estabelecido para o desenvolvimento de doenças cardiovasculares ateroscleróticas. Alguns relatórios históricos sugeriram, no entanto, um menor risco de eventos cardiovasculares adversos em pacientes fumantes do que em pacientes não fumantes. Dita observação, conhecida como o “paradoxo do fumante”, foi descrita pela primeira vez em 1968 e relatada posteriormente em diversos ambientes clínicos, incluindo pacientes submetidos a revascularização por doença arterial coronariana (DAC). 

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Dados mais recentes questionaram a existência de tal paradoxo em pacientes submetidos a procedimentos de revascularização coronariana, informando que o tabagismo se associa de forma independente a resultados adversos no seguimento a médio e longo prazo, tanto em indivíduos submetidos a revascularização miocárdica percutânea quanto cirúrgica. Faltam, contudo, dados que avaliem especificamente os resultados cardiovasculares em seguimento de 10 anos segundo o tabagismo no início do estudo. 

O objetivo deste estudo foi pesquisar o impacto do tabagismo basal nos resultados em 10 anos de pacientes submetidos a angioplastia coronariana percutânea (ATC) e implante de stents eluidores de fármacos (DES). 

O desfecho primário (DP) foi a taxa de mortalidade por todas as causas. O desfecho secundário (DS) incluiu morte cardiovascular, infarto agudo do miocárdio (IAM), trombose definitiva do stent, revascularização da lesão tratada (TLR), revascularização do vaso tratado (TVR) e revascularização do vaso não tratado (nTVR) em 10 anos. 

Foram analisados 9525 pacientes, dentre os quais 2365 foram incluídos no grupo de fumantes e 7162 no grupo de não fumantes. Somente 7,7% do total teve um seguimento completo de 9,5 anos (n de fumantes = 201; n de não fumantes = 534). Os pacientes do grupo de fumantes eram, em geral, mais jovens, predominantemente do sexo masculino e apresentavam com menor frequência outros fatores de risco cardiovascular. 

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Após o ajuste multivariável, o tabagismo se associou a um maior um risco de morte por qualquer causa (HR: 1,45; IC de 95%: 1,33-1,59), morte cardiovascular (HR: 1,59; IC de 95%: 1,41-1,80) e trombose definitiva do stent (HR: 2,09; IC de 95%: 1,34-3,26) 10 anos após a ATC. O risco de infarto do miocárdio foi comparável nos primeiros 30 dias após a ATC, mas aumentou significativamente entre 1 e 10 anos no grupo de fumantes (HR: 1,60; IC de 95%: 1,36-1,90). O tabagismo se associou a um menor risco de TLR e TVR, mas mostrou um risco comparável ao dos não fumantes no tocante ao nTVR. 

Conclusão 

Durante o seguimento de 10 anos após a ATC com DES, o tabagismo se associou a um maior risco de morte, infarto do miocárdio e trombose do stent. Estes achados respaldam o fato de o tabagismo exercer um efeito prejudicial nos resultados cardiovasculares a longo prazo em pacientes submetidos a angioplastia coronariana. É fundamental dirigir estratégias específicas para a modificação de fatores de risco em pacientes fumantes submetidos a ATC, já que estes apresentam um maior risco de eventos recorrentes em comparação com os não fumantes. 

Título Original: Smoking Status at Baseline and 10-Year Outcomes After Drug-Eluting Stent Implantation Insights From the DECADE Cooperation.

Referência: Antonia Presch, MD et al JACC CardiovascInterv.2025.


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Dr. Andrés Rodríguez
Dr. Andrés Rodríguez
Membro do Conselho Editorial da solaci.org

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