Importante estudo detecta dano agudo em DNA de operadores por radiação após um procedimento endovascular

Fomos testemunhas e atores do crescimento exponencial do número de procedimentos cardiovasculares conduzidos com fluoroscopia realizados por Cardiologistas Intervencionistas, Eletrofisiologistas e Cirurgiões Vasculares. Há até bem pouco tempo, a maioria desses procedimentos eram território exclusivo da cirurgia aberta, e hoje um grande número de pacientes pode ser tratado de maneira muito menos invasiva, mas a um custo do qual ainda não temos plena consciência.

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Uma publicação recente onde é relatado o seguimento de 15 anos dos pacientes tratados com endoprótese por um aneurisma de aorta abdominal indica um aumento da incidência de câncer nesses pacientes quando comparados aos tratados com cirurgia aberta.

 

Há um importante foco em reduzir a exposição dos pacientes – e isso está muito bem –, mas o mesmo esforço deveria ser dedicado a reduzir as doses nos operadores.


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O aumento da incidência de câncer nos intervencionistas se deve basicamente a câncer cerebral, câncer de mama e melanoma, o que torna fundamental medir o risco ocupacional da exposição à radiação com ferramentas sensíveis que possam esclarecer o efeito biológico de dita exposição.

 

A expressão do marcador de DNA danificado/reparado (marcador gamma-H2AX), o marcador de resposta ao dano de DNA (marcador DDR) e o marcador de fosforilado de ataxia telangiactasia com mutação (marcador pATM) foram quantificados em linfócitos circulantes dos Cardiologistas Intervencionistas no período periprocedimento de uma reparação de aneurisma de aorta (tanto aneurismas infrarrenais quanto aqueles que requereram técnica de chaminé ou fenestrada) mediante citometria de fluxo.

 

Os marcadores foram medidos separadamente nos mesmos operadores utilizando as telas de proteção superiores e inferiores e sem usá-las. A suscetibilidade ao dano por radiação foi determinada in vitro irradiando sangue dos operadores.


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Os marcadores gamma-H2AX e pATM aumentaram significativamente nos operadores após um procedimento de chaminé e fenestrado (p < 0,003 para ambos). Somente o pATM se incrementou após uma endoprótese infrarrenal convencional (p < 0,04). A expressão dos marcadores voltou ao basal 24 horas após o procedimento.

 

Não se observou elevação de marcadores nos operadores quando o procedimento foi mediante cirurgia aberta.

 

O uso das telas anulou a elevação do gamma-H2AX e pATM após um procedimento de chaminé ou fenestrado.


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A expressão do gamma-H2AX variou significativamente quando o sangue de distintos operadores foi exposto in vitro à mesma dose de radiação. Isso nos leva a especular sobre diferentes sensibilidades individuais à exposição.

 

Conclusão

Este é o primeiro estudo que detecta dano agudo do ADN nos operadores após um procedimento de exclusão de aneurisma com endoprótese e ressalta a enorme utilidade das telas de proteção. Definir a relação entre dita resposta ao dano de DNA e o risco de câncer poderia ajudar a definir as doses seguras de radiação no pessoal exposto.

 

Comentário editorial

Surgem conclusões deste trabalho, ainda que até agora haja mais perguntas que respostas:

  • A dosimetria convencional falha em medir as consequências biológicas da radiação nos operadores.
  • As doses seguras de radiação foram definidas sem considerar as diferentes suscetibilidades interindividuais que, pelo que tudo indica, existem.
  • As telas de proteção são fundamentais para reduzir a dose de radiação a qual nos expomos.
  • O uso de marcadores biológicos que incluam o gamma-H2AX e pATM podem ajudar a classificar o risco individual, definir os mecanismos mediante os quais a radiação pode produzir mutagêneses e otimizar as estratégias de proteção.

 

Título original: Radiation Induced DNA Damage in Operators Performing Endovascular Aortic Repair.

Referência: El-Sayed T et al. Circulation. 2017 Oct 20. Epub ahead of print.


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