O acesso transradial (TRA) é a via de escolha na maioria dos procedimentos coronários percutâneos, com benefícios comprovados na redução de complicações vasculares e no menor tempo de recuperação. No entanto, apesar de sua segurança, não está isento de complicações, como a oclusão da artéria radial (RAO).

Embora clinicamente silenciosa na maioria dos casos, graças à circulação colateral do punho e da mão, a RAO representa uma limitação importante para a realização de novos procedimentos, sua utilização em enxertos para cirurgia de revascularização ou a criação de acessos para hemodiálise.
Diante desse desafio, o acesso radial distal (DRA), realizado na tabaqueira anatômica, surgiu como uma alternativa segura e eficaz — não apenas para reduzir a incidência de RAO, mas também para possibilitar a recanalização retrógrada de artérias previamente ocluídas.
Colletti et al. publicaram um estudo internacional multicêntrico no qual analisaram retrospectivamente uma coorte de 110 pacientes com RAO, tratados em sete centros internacionais por operadores com experiência superior a 200 casos em DRA. A idade média foi de 66 anos, e 60% eram do sexo masculino. A estratégia consistiu em um manejo estruturado, com técnicas adaptadas conforme a morfologia do cap distal (tapered ou blunt), utilizando métodos de drilling ou knuckling para atravessar a oclusão, seguidos de dilatação por dotterização ou, em casos selecionados, angioplastia com balão.
A dotterização (dilatação do segmento com a própria bainha do introdutor ou cateteres-guia) foi realizada em 62% dos casos, enquanto a angioplastia com balão foi utilizada nos 38% restantes. Além disso, relatou-se conversão para uso de cateteres sheathless em 47% dos pacientes.
O procedimento alcançou sucesso técnico em 94% dos casos e uma perviedade radial em 30 dias de 80%, com baixa incidência de complicações agudas (4,5%: 4 perfurações radiais e 1 hematoma EASY III), todas resolvidas de forma conservadora. Entre os achados mais relevantes da análise multivariada, identificou-se a abordagem sheathless como preditor independente de perviedade em 30 dias (OR 3,07; IC95%: 1,10–8,59). Por outro lado, o uso de bainhas maiores que 6F (OR 0,15) e balões acima de 2,25 mm (OR 0,10) foi associado a menor probabilidade de perviedade.
Conclusões
Este estudo reafirma a importância do DRA não apenas como via de acesso primária, mas também como ferramenta terapêutica para a recanalização radial, consolidando seu papel no arsenal da cardiologia intervencionista moderna. A implementação de uma abordagem padronizada, com ênfase especial em técnicas menos invasivas, como o uso sheathless, pode otimizar os resultados de perviedade e reduzir a necessidade de acessos alternativos.
Título original: Distal Radial Access for Radial Artery Recanalization Multicenter Outcomes and Stepwise Strategies to Maximize Patency.
Referência: Colletti G, Sgueglia GA, Gasparini GL, Ungureanu C, Tsigkas G, Leibundgut G, Cocoi M, Gach O, Boukhris M, Novotný V, Cocco N, Peter L, Natalis A, Novelli L, Benthakhou E, Kákonyi K, Tumscitz C, Achim A, Rusza Z. Distal Radial Access for Radial Artery Recanalization: Multicenter Outcomes and Stepwise Strategies to Maximize Patency. JACC Cardiovasc Interv. 2025 Sep 8;18(17):2140-2151. doi: 10.1016/j.jcin.2025.07.003. PMID: 40930602.
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