O TAVI surgiu a já bastante tempo como uma estratégia válida para tratar a estenose aórtica, mas o dano ventricular começa muito antes do aparecimento dos sintomas e afeta também o átrio esquerdo, a vasculatura pulmonar, o ventrículo direito, a válvula tricúspide e o átrio direito.
Isso gera um incremento da pós-carga e um desacoplamento entre o ventrículo direito e a artéria pulmonar definido mediante ecocardiograma transesofágico como a relação entre a excursão sistólica do plano do anel tricúspide (TAPSE) e a pressão sistólica da artéria pulmonar (PSAP), TAPSE/PSAP.
A redução dessa relação (≤ 0,55 mmHg) se associa a uma evolução desfavorável.
Analisaram-se os pacientes incluídos no estudo PARTNER 3. Dentre eles, 222 (38,9%) apresentavam desacoplamento do ventrículo direito com a artéria pulmonar, TAPSE/PSAP ≤ 0,55 mmHg e 348 evidenciavam acoplamento TAPSE/PSAP > 0,55 mmHg.
O desfecho primário (DP) foi uma combinação de morte por qualquer causa, AVC e re-hospitalização em dois anos.
As populações foram similares, a idade média foi de 74 anos, 66% da população esteve composta por homens e 30% dos pacientes incluídos eram diabéticos. Os que apresentavam desacoplamento tiveram maior presença de arritmias e um BNP mais alto.
Em dois anos de seguimento o DP foi maior nos pacientes que apresentavam desacoplamento (19,1% vs. 9,9%; HR: 20,3; 95% CI: 1,29-3,19; P = 0,002) e também se associaram a mortalidade por qualquer causa (5,9% vs. 0,6%; p < 0,001), mortalidade cardiovascular (4,1% vs. 0,6%; p = 0,003) e re-hospitalização (13,5% vs. 7,3%; p = 0,02). A taxa de AVC (24,2% vs. 14,2%; HR: 1,83; 95% CI: 0,98-3,41; p ¼ 0,053ke) foi muito baixa e não houve diferença entre os grupos.
Os pacientes do grupo desacoplamento que foram submetidos a cirurgia de substituição valvar aórtica tiveram maior tendência de desenvolver o DP (24,2% vs. 14,2%; p = 0,05).
Na análise multivariada a presença de desacoplamento foi um preditor independente do DP em dois anos.
Conclusão
Nos pacientes sintomáticos com estenose aórtica severa de baixo risco para cirurgia que foram submetidos a TAVI ou substituição cirúrgica, o desacoplamento basal entre o ventrículo direitos e a artéria pulmonar definida por TAPSE/PSAP ≤ 0,55 mmHg se associou à ocorrência de eventos clínicos adversos em 2 anos, incluindo mortalidade por qualquer causa, mortalidade cardiovascular e re-hospitalização.
Dr. Carlos Fava.
Membro do Conselho Editorial da SOLACI.org.
Título Original: Impact of Right Ventricle-Pulmonary Artery Coupling on Clinical Outcomes in the PARTNER 3 Trial.
Referência: Thomas J. Cahill, et al. J Am Coll Cardiol Intv 2022;15:1823–1833.
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