O tratamento médico da hipertensão arterial (HTA) mostrou uma considerável evolução no transcorrer do tempo. Entretanto, continua sendo um desafio manejar todos os fatores adversos da medicação e a baixa aderência dos pacientes, seja devido à polimedicação, seja pelos custos associados.
Apesar das barreiras conhecidas, aproximadamente 10% dos pacientes não conseguem alcançar cifras ótimas de pressão arterial, mesmo recebendo um tratamento médico ótimo (TMO); esses pacientes são conhecidos como hipertensos resistentes.
A denervação renal (RDN) é uma terapia transcateter que reduz a atividade simpática mediante a ablação de nervos simpáticos renais. A efetividade do procedimento foi demonstrada em estudos como o SPYRAL e em registros globais como o Global Simplicity Registry. No entanto, aproximadamente um terço dos pacientes tratados com RDN não respondem adequadamente, por características próprias do indivíduo ou pelo procedimento, e não atingem as cifras alvo de pressão arterial com o tratamento.
Para avaliar que pacientes poderiam se beneficiar mais da terapêutica, Hu et al. realizaram uma revisão sistemática e uma metanálise, publicada no Journal of the American Heart Association, com o objetivo de identificar fatores específicos dos pacientes hipertensos incluídos.
Foram incluídos 17 estudos observacionais. Avaliaram-se diversos fatores hemodinâmicos, sugerindo-se (com moderada certeza) que a frequência cardíaca (FC) elevada se associou a uma maior efetividade anti-hipertensiva com RDN, tanto a medida em 24 horas (weighted mean difference: −4,05; IC de 95%: −7,33 a −0,77) como em TA sistólica de dia (WMD: −5,9; IC de 95%: −9.49 a −2.50).
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Ao avaliar a HTA basal, encontrou-se que os pacientes com TA basal maior (definida como TAS noturna ≥ 136, TAS de 24 horas ≥ 155 e TA de consultório ≥ 180) apresentaram uma resposta mais efetiva. Outros achados associados à resposta à RDN foram a presença de HTA ortostática (maior eficácia na diminuição de TAS de 24 horas) e a variabilidade da TA (a variabilidade noturna se associou a maior efetividade).
Com relação ao parâmetro rigidez arterial (medida com velocidade de onda de pulso – VOP), sugeriu-se uma relação entre resposta à RDN e a presença de VOP baixa (redução de TAS 24 horas: WND: – 7,20 [IC de 95%, −9.79 a −4.62] e redução de TAS diurna: WMD: −9,09 [IC de 95%: −11,63 a −6,55]).
Os dados coletados sobre o eixo renina-angiotensina indicaram que os pacientes com uma atividade aumentada de dito eixo (definida por uma redução ≥ 10 mmHg com o início de inibidores da aldosterona, razão aldosterona-renina ≥ 30 o slow flow em angiografia renal) apresentaram uma maior probabilidade de sucesso com a RDN.
Ao avaliar as características clínicas, observou-se que os pacientes mais jovens, os negros e com boa função renal responderam melhor ao tratamento, ao passo que não foram encontradas diferenças significativas relacionadas com o sexo, o índice de massa corporal, a apneia obstrutiva nem a doença coronariana (certeza baixa).
Conclusões
Devido às taxas de não respostas observadas com a RDN, é crucial uma seleção cuidadosa de pacientes com hipertensão refratária para dito tratamento intervencionista. Este estudo ressalta o fato de os pacientes hipertensos com frequência cardíaca elevada basal e baixa VOP poderem experimentar uma maior redução da pressão arterial diurna e de 24 horas com a RDN.
Dr. Omar Tupayachi.
Membro do Conselho Editorial da SOLACI.org.
Título Original: Patient-Specific Factors Predicting Renal Denervation Response in Patients With Hypertension: A Systematic Review and Meta-Analysis.
Referência: Hu XR, Liao GZ, Wang JW, Ye YY, Chen XF, Bai L, Shi FF, Liu K, Peng Y. Patient-Specific Factors Predicting Renal Denervation Response in Patients With Hypertension: A Systematic Review and Meta-Analysis. J Am Heart Assoc. 2024 Jul 16;13(14):e034915. doi: 10.1161/JAHA.124.034915. Epub 2024 Jul 9. PMID: 38979821.
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