Título original: Full conversion from transfemoral to transradial approach for percutaneous coronary interventions results in a similar success rate and a rapid reduction of in-hospital cardiac and vascular major events. Referência: Vincent Dangoisse et al. EuroIntervention 2013;9:345-352.
Embora seja clara a desvantagem do acesso femoral com relação às complicações hemorrágicas, ele continua sendo o acesso preferido para angioplastia na maioria dos centros do mundo. Com a crescente evidência de que o sangramento, a necessidade de transfusão e as complicações vasculares estão associados a um aumento da mortalidade, muitos centros estão mudando a sua preferência ao acesso radial.
Este trabalho é um bom exemplo de esta transição, onde um centro passou de realizar 100% das angioplastias por acesso femoral no ano 2002, a 98% por acesso radial em 2007, de maneira não forçada. Durante esses cinco anos de transição registraram-se os resultados de maneira prospectiva de todas as angioplastias coronárias realizadas em um centro comparando o acesso femoral vs radial.
Foram analisadas no total 3600 angioplastias (1928 por acesso femoral e 1672 por acesso radial) com a ocorrência de similar mortalidade e stroke mais com uma taxa maior de infarto para o acesso femoral (3.6% vs 2.3%, p=0.023). A maior diferença foi observada na taxa de transfusões e necessidade de cirurgia vascular com ampla vantagem do acesso radial (0.2% vs 1.5%, p<0.001). As hemorragias não relacionadas ao acesso vascular, no entanto, resultaram similares (0.7% vs 0.9%, p=ns).
Para esta coorte, o tempo médio de fluoroscopia resultou 42 segundos maior para o acesso radial (504 seg vs 546 seg, p=0.036) e foram necessários em média 10 ml mais de contraste (226±99 ml vs 217±108 ml, p<0.001). O cruzamento a femoral foi necessário somente em 1.3% das angioplastias (na maioria dos casos logo de tentar por ambas radiais).
Conclusão:
A transição neste centro ocorreu de maneira relativamente rápida e segura sem impactar a taxa de êxito das angioplastias. Localmente, esta migração ao acesso radial traduziu-se em uma redução significativa dos eventos adversos clínicos netos (morte, infarto, stroke, necessidade de cirurgia, sangramento e transfusão).
Comentário editorial:
Concomitantemente com a maior utilização do acesso radial neste centro observou-se uma maior utilização de inibidores da glicoproteína IIBIIIA (23.7% versus 7.4% para femoral, p<0.001) que tal vez pode ser explicada pela diferente percepção de risco/benefício por parte dos operadores (igual benefício com menor risco de sangramento graças ao acesso). Apesar desta enorme diferença no uso de IIBIIIA, os sangramentos não relacionados ao acesso resultaram similares. A diferença nos infartos em favor do acesso radial pode ser explicada só parcialmente pelos IIBIIIA e deve ser interpretada no contexto de um estudo observacional de um único centro. As diferenças em fluoroscopia e volume de contraste estão influenciadas pelos primeiros anos da transição e a curva de aprendizado.
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