Utilização de ecocardiograma intracardíaco para guiar a oclusão do apêndice atrial esquerdo: é efetivo e seguro?

A oclusão percutânea do apêndice atrial esquerdo (LAAC) se tornou uma intervenção frequente para a prevenção do AVC em pacientes com fibrilação atrial (FA) que não são candidatos a anticoagulação. Uma das complicações que apresenta impacto negativo nos resultados desses procedimentos é a regurgitação peridispositivo. 

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Para diminuir essas complicações é de utilidade o uso de imagens intraprocedimento, sendo o ecocardiograma transesofágico (TEE) o mais utilizado em nosso meio. No entanto, o TEE apresenta desafios significativos já que requer intubação orotraqueal y um ecocardiografista treinado na técnica. 

Devido ao fato de os pacientes candidatos a LAAC frequentemente serem idosos e apresentarem maior fragilidade, surge a necessidade de utilizar ecocardiograma intracardíaco (ICE) – já utilizado em outras entidades como a oclusão do forame oval e a oclusão da comunicação interatrial – para realizar punção transeptal e para procedimentos eletrofisiológicos. A principal vantagem do ICE é poder ser feito pelo mesmo operador que o do LAAC com anestesia local. 

O objetivo deste estudo prospectivo e multicêntrico foi avaliar a eficácia e a segurança da utilização de ICE para guiar o implante do dispositivo de oclusão do apêndice atrial Watchman FLX. 

Leia também: Registro FLASH: Trombectomia mecânica com FlowTriever.

O desfecho primário (DP) foi a taxa de regurgitação (> 5 mm) em 45 dias. Além disso houve um desfecho secundário que incluiu morte, sangramento, embolização do dispositivo, migração, trombo, intervenção endovascular maior, derrame pericárdico e AVC ou acidente isquêmico transitório. 

Finalmente fez-se uma comparação com os pacientes do estudo PINNACLE FLX (Protection Against Embolism for Nonvalvular AF Patients: Investigational Device Evaluation of the Watchman FLX LAA Closure Technology) que utilizou o TEE para guiar o implante do Watchman FLX. 

Foram analisados 100 pacientes, a idade média foi de 76 anos e a maioria deles eram homens. O escore CHA2DS2-VASc médio foi de 4 e o escore HASBLED médio foi de 2,5. O sucesso técnico e do procedimento ocorreu em todos os casos e nenhum deles requereu a utilização de TEE. 

Com relação ao DP, nenhum dos pacientes apresentou regurgitação peridispositivo > 5 mm nos 45 dias posteriores à intervenção. A taxa de regurgitação de 0 a 5 mm em 45 dias foi d e 22,7%.

Leia também: Fisiologia coronariana após a intervenção na valva aórtica.

No que se refere aos resultados clínicos, a mortalidade foi de 1%, o sangramento maior foi de 3,1% e não houve AVC, embolia sistêmica, derrame pericárdico nem embolização ou trombose do dispositivo. Os resultados deste estudo são comparáveis já que as populações apresentam características similares às do estudo PINNACLE FLX, no qual a taxa de regurgitação > 5 mm também foi de 0% e a taxa de regurgitação entre 0 e 5 mm foi de 17,2%.

Conclusões

Este é o primeiro estudo com um design prospectivo no qual se utilizou ICE para guiar a LAAC, apresentando uma taxa de sucesso elevada, com poucas complicações e efetiva oclusão do apêndice atrial sem regurgitação > 5 mm em 45 dias. Os resultados aqui apresentados sugerem que o ICE é uma alternativa válida para guiar a LAAC com dispositivos Watchman FLX. 

Dr. Andrés Rodríguez.
Membro do Conselho Editorial da SOLACI.org.

Título Original: Intracardiac Echocardiography to Guide Watchman FLX Implantation The ICE LAA Study.

Referência: Jens Erik Nielsen-Kudsk et al J Am Coll Cardiol Intv 2023.


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