Durante muitos anos, o tratamento principal das dislipidemias se centrou em reduzir o colesterol LDL (LDL-C), o que mostrou benefícios na diminuição da doença cardiovascular aterosclerótica (ASCVD) mediante o uso de estatinas. A lipoproteína (a) é uma forma de apolipoproteína B (que contém LP unida a uma proteína glicosilada hidrofílica chamada apolipoproteína A). Os níveis circulantes de Lp(a) estão determinados geneticamente, com pouco impacto dos hábitos alimentícios ou do estilo de vida.
Os níveis de Lp(a) se relacionam com um maior risco de ASCVD, segundo estudos randomizados e análises mendelianos, que abrangem a nova incidência de eventos como o infarto agudo do miocárdio (IAM), acidente vascular cerebral (AVC) e doença arterial periférica. A relação entre Lp(a) e o risco de ASCVD é linear, tanto em condições basais como durante o tratamento com estatinas. Contudo, não está completamente estabelecido como pode predizer o risco a longo prazo na prevenção primária de coortes com um risco basal elevado, incluindo os pacientes com diabetes.
O objetivo deste estudo foi examinar a relação comparativa da Lp(a) com os eventos de ASCVD em uma coorte estadunidense ao longo de um seguimento médio de 20 anos, que incluiu pessoas sem doença vascular conhecida, com risco baixo e alto de ASCVD, bem como uma análise específica nos pacientes com diabetes mellitus (DM).
Foram compilados dados de cinco estudos prospectivos sobre doença cardiovascular, incluindo o MESA, CARDIA, JHS, FHS-OS e ARIC, que abrangem pacientes desde 1983 até 2002, com um seguimento de até 36 anos (média de 21 anos).
A Lp(a) foi categorizada em percentis (< 50º, 50º a <75º, 15º a <90º e 90º) e os pacientes foram classificados conforme seu risco de ASCVD em baixo-intermediário (risco ASCVD < 20% em 10 anos) e alto risco (> 20% em 10 anos). Os pacientes de 20 a < 40 anos foram caracterizados como de alto risco se tinham dois ou mais fatores de risco, como tabagismo ativo, DM, HTA, LDL-C ≥ 100 mg/dl, HDL-C ≤ 40 mg/dl (homens) ou ≤ 50 mg/dl (mulheres) e um IMC ≥ 30 kg/m2. O desfecho primário de ASCVD incluiu IAM não fatal e fatal, AVC, revascularização e morte por doença coronariana.
Foram incluídos 27.756 pacientes sem doença cardiovascular conhecida, com idades entre 20 e 79 anos (média de 51,2 ± 12,4 anos), dentre os quais 55% eram mulheres, 2,5% asiáticos, 4,7% hispanos e 35,6% de pele escura, com um seguimento médio de 21,1 ± 9,9 anos. 82,4% apresentavam um risco baixo-intermediário e 17,6% um risco alto, incluindo 7,6% com DM. Os valores médios de Lp(a) para os percentis (< 50º, 50º a <75º, 15º a <90º e 90º) foram 3,6, 13,5, 25,9 e 52,6 mg/dL, respectivamente. Os pacientes com níveis mais altos de Lp(a) tendiam a ser mulheres, de raça negra e com menor nível educativo.
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Comparados com as pessoas no percentil < 50º, os pacientes com percentis mais altos de Lp(a) tiveram um HR ajustado de 1,06 (IC de 95%: 0,99-1,14, 1,18 (IC de 95%: 1,09-1,28) e 1,46 (IC de, 95%: 1,33-1,59) respectivamente. Os HR foram similares ao realizar a estratificação entre baixo-intermediário e alto risco (p de interação = 0,88). No entanto, foram maiores nos pacientes com DM (p de interação = 0,0056). Ao analisar a população com DM, os pacientes com percentil > 90 de Lp(a) tinham quase o dobro de risco de incidência de eventos CV (HR: 1,92; IC de 95%: 1,50-2,45).
Conclusões
Esta análise demonstra que os níveis elevados de Lp(a) se associam independentemente com um maior risco de ASCVD durante um seguimento de mais de 20 anos, sendo dita relação mais significativa e hierárquica nos pacientes com diabetes mellitus.
Dr. Omar Tupayachi.
Membro do Conselho Editorial da SOLACI.org.
Título Original: Lipoprotein(a) and Long-Term Cardiovascular Risk in a Multi-Ethnic Pooled Prospective Cohort.
Referência: Wong ND, Fan W, Hu X, Ballantyne C, Hoodgeveen RC, Tsai MY, Browne A, Budoff MJ. Lipoprotein(a) and Long-Term Cardiovascular Risk in a Multi-Ethnic Pooled Prospective Cohort. J Am Coll Cardiol. 2024 Apr 23;83(16):1511-1525. doi: 10.1016/j.jacc.2024.02.031. PMID: 38631771.
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