O acesso radial diminui a mortalidade na angioplastia primária

Título original: Radial Versus Femoral Access for Primary Percutaneous Interventions in ST-Segment Elevation Myocardial Infarction Patients. A Meta-Analysis of Randomized Controlled Trials. Referência: Wassef Karrowni et al. J Am Coll Cardiol Intv 2013;6:814–23.

O sangramento é a complicação intrahospitalar mais frequente da angioplastia coronariana e está claramente associado a eventos adversos incluindo a morte. Os pacientes que ingressam cursando uma síndrome coronária aguda com supradesnivelamento do segmento ST precisam uma revascularização urgente ao mesmo tempo que uma agressiva terapia antiplaquetária e antitrombótica que lhes da uma maior susceptibilidade ao  sangramento.

Dado que estes sangramentos frequentemente estão relacionados com o local de acesso, a artéria radial é uma estratégia atraente onde o risco de sangramento deve ser contrabalançado com o maior tempo possível de procedimento, um detalhe não menor no contexto de uma angioplastia primária.

Esta meta análise incluiu 12 estudos randomizados que avaliaram os resultados do acesso radial vs femoral no contexto da angioplastia primária com um total de 5055 pacientes (2492 pacientes com acesso radial e 2562 com acesso femoral).

O uso de inibidores da glicoproteína IIb IIIa foi comum em todos os estudos e em uma taxa similar entre as duas ramas. O crossover de um acesso ao outro foi mais frequente para a radial (4.6%) que para a femoral (1.1%).

Observou-se uma redução significativa da mortalidade no grupo radial comparado com o grupo femoral (2.7% vs 4.7%; OR 0.55, 95% IC 0.4 a 0.76; p<0.001) associado a uma redução de similar magnitude na taxa de sangramento maior (1.4% vs 2.9%; OR 0.51, 95% IC 0.31 a 0.85; p<0.05). O sangramento especificamente relacionado ao acesso também foi significativamente menor (radial 2.1% vs femoral 5.6%; OR 0.35, 95% IC 0.25 a 0.50; p<0.001). A taxa de acidente cerebral vascular e de infarto do miocárdio resultaram similares entre os dois acessos.

Conclusão:

Os resultados desta meta análise mostram uma diminuição da mortalidade e o sangramento com o acesso radial acima do femoral em pacientes cursando uma síndrome coronária aguda com supradesnivelamento do segmento ST que recebem angioplastia primária.

Comentário editorial:

Todos os estudos analisados excluíram os pacientes em choque cardiogênico com a exceção do RIFLE-STEACS onde não foram observadas dificuldades na utilização do acesso radial. A angioplastia poderia ser realizada por acesso radial nos pacientes instáveis, reservando a femoral para o balão de contra pulsação por exemplo. 

O tempo de procedimento resultou 1.5 minutos mais prolongado em média (95% IC 0.33 a 2.70; p=0.01) com o acesso radial que com o femoral. Embora este ponto foi frequentemente objetado pelos defensores do acesso femoral, não parece ter importância incluso no contexto da angioplastia primária.

SOLACI.ORG

Mais artigos deste autor

Doença de tronco da coronária esquerda: ATC guiada por imagens intravasculares vs. cirurgia de revascularização miocárdica

Múltiplos ensaios clínicos randomizados demonstraram resultados superiores da cirurgia de revascularização coronariana (CABG) em comparação com a intervenção coronariana percutânea (ATC) em pacientes com...

AHA 2025 | TUXEDO-2: manejo antiagregante pós-PCI em pacientes diabéticos multivaso — ticagrelor ou prasugrel?

A escolha do inibidor P2Y12 ótimo em pacientes diabéticos com doença multivaso submetidos a intervenção coronariana percutânea (PCI) se impõe como um desafio clínico...

AHA 2025 | DECAF: consumo de café vs. abstinência em pacientes com FA — recorrência ou mito?

A relação entre o consumo de café e as arritmias tem sido objeto de recomendações contraditórias. Existe uma crença estendida de que a cafeína...

AHA 2025 | Estudo OCEAN: anticoagulação vs. antiagregação após ablação bem-sucedida de fibrilação atrial

Após uma ablação bem-sucedida de fibrilação atrial (FA), a necessidade de manter a anticoagulação (ACO) a longo prazo continua sendo incerta, especialmente considerando que...

LEAVE A REPLY

Please enter your comment!
Please enter your name here

Artigos Relacionados

Congressos SOLACIspot_img

Artigos Recentes

Assista novamente: Embolia Pulmonar em 2025 — Estratificação de Risco e Novas Abordagens Terapêuticas

Já está disponível para assistir o nosso webinar “Embolia Pulmonar em 2025: Estratificação de Risco e Novas Abordagens Terapêuticas”, realizado no dia 25 de...

Um novo paradigma na estenose carotídea assintomática? Resultados unificados do ensaio CREST-2

A estenose carotídea severa assintomática continua sendo um tema de debate diante da otimização do tratamento médico intensivo (TMO) e a disponibilidade de técnicas...

Remodelamento cardíaco após a oclusão percutânea da CIA: imediato ou progressivo?

A comunicação interatrial (CIA) é uma cardiopatia congênita frequente que gera um shunt esquerda-direita, com sobrecarga de cavidades direitas e risco de hipertensão pulmonar...