Gentileza do Dr. Guillermo Migliaro
Na prática clínica habitual há relato de até 30% de superposição de stents (SS) ou stents telescopados das angioplastias coronarianas (ATP), o que ocorre especialmente devido a lesões muito longas que requerem a implantação de múltiplos stents ou à presença de dissecções após o implante do primeiro stent.
Na era dos stents metálicos, a SS se associou a resultados clínicos desfavoráveis por aumento da reestenose. Com os stents eluidores de drogas (DES), os resultados foram contraditórios: por um lado, embora tenham sido constatados efeitos desfavoráveis que ocasionaram mais mortes e infartos nos DES de primeira geração (devido à dupla camada metálica, à dupla dose de droga e ao polímero com maior injuria arterial), ditos efeitos não foram observados nos DES de segunda geração, nos quis a SS demonstrou ser segura e efetiva.
No que se refere às plataformas bioabsorvíveis eluidoras de everolimus (BRS), que apresentam maior espessura nos struts comparando-se com os DES de segunda geração, existem poucos dados disponíveis sobre o impacto da SS nos resultados clínicos, já que esse grupo de pacientes foi excluído dos estudos randomizados.
O objetivo do presente estudo foi analisar o impacto clínico das BRS do registro GHOST EU.
O registro GHOST EU (Gauging Coronary Healing with Biosorbable Scaffolding platform in Europe) é multicêntrico (realizado em 11 centros da Europa) e incluiu 1.477 pacientes consecutivos com ATP de um ou múltiplos vasos com pelo menos um BRS (Absorb) entre o ano 2011 e 2014. O desfecho primário (PFP) foi uma combinação de morte por qualquer causa, infarto do miocárdio e necessidade de nova revascularização no primeiro ano de seguimento.
Os pacientes foram divididos em dois grupos, de acordo com o fato de terem ou não SS. 21,7% dos pacientes (n = 320) tinham SS, enquanto que os 78,3% restantes (n = 1.157) não tinham. O grupo com SS (composto principalmente por pessoas do sexo masculino) tinha significativamente uma maior frequência de diabetes, angina crônica estável, lesões tipo B2/C, escore de Syntax > 22, comprimento da lesão > 34 mm, maior utilização de imagens intracoronarianas como guia do procedimento, e maior pré e pós-dilatação. O estudo foi realizado por operadores experientes seguindo estritamente os protocolos estabelecidos para a implantação desse tipo de plataformas.
No primeiro ano de seguimento não houve diferenças no PFP entre o grupo com ou sem SS (18,4% vs. 18,2%; HR 1,07 (0,80-1,44); p = 0,636. Depois de fazer o ajuste de variáveis, também não foram observadas diferenças significativas. A trombose da plataforma não mostrou diferenças nem no primeiro mês (1,3% vs. 1,5%; p = 0,769) nem no primeiro ano (1,9% vs. 2,1%; p = 0,823)
O estudo concluiu que na prática habitual a SS de plataformas bioabsorvíveis não pareceu ter um impacto nos resultados clínicos quando comparada com a não SS.
Comentário Editorial
Este registro, mesmo considerando as limitações inerentes de seu desenho, tem as vantagens de ser multicêntrico e com amplos critérios de inclusão (“mundo real”). Além disso, contribui com os primeiros dados acerca da segurança e eficácia nos resultados clínicos de um ano da SS em plataformas bioabsorvíveis eluidoras de Everolimus.
Embora apresente diferenças nas características basais da população e em variáveis relacionadas ao procedimento (como maior utilização de OCT no grupo de SS que poderiam justificar os resultados), o ajuste de ditas variáveis não modificou os resultados.
O estudo carece de poder estatístico para a avaliação do desfecho, mas é gerador de hipóteses que deveriam ser confirmadas em estudos randomizados de maior escala. A geração futura de plataformas bioabsorvíveis com struts mais finos poderia melhorar ainda mais o desempenho de ditas plataformas no contexto da SS.
Gentileza do Dr. Guillermo Migliaro.
Título original: Impact of Overlapping on 1 year Clinical Outcomes in Patients Undergoing Everolimus Eluting Bioresorbable Scaffolds Implantation in Routine Clinical Practice: Insights from the European Multicenter GHOST-EU Registry.
Referência: Ortega Paz L, et al. Catheterization and Cardiovascular Interventions 89:812-818(2016).
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