O tratamento dos pacientes com isquemia induzível em estudos funcionais e doença coronariana não obstrutiva (INOCA) é complexo e muitas vezes frustrante.
A natureza multifuncional da doença, somada à complexa relação fisiopatológica entre a angina e a isquemia fazem com que este grupo de pacientes seja uma verdadeira dor de cabeça para os cardiologistas.
O estudo CIAO-ISCHEMIA foi recentemente publicado no Circulation e seu desenho visava a descrever a história natural dos sintomas e da isquemia em pacientes com INOCA.
Os pacientes incluídos neste trabalho têm a particularidade de terem sido excluídos da randomização do ISCHEMIA por não cumprirem com o critério de doença coronariana obstrutiva.
Todos apresentavam angina e anormalidade da motilidade parietal induzíveis sob estresse. O laboratório de ecocardiografia foi cego para os sintomas e para a presença de doença coronariana.
O tratamento farmacológico ficou a critério dos médicos tratantes. O desfecho final primário do estudo foi a correlação entre as mudanças na frequência da angina e as mudanças no ecocardiograma sob estresse. Analisaram-se os preditores do seguimento de um ano das mudanças nos sintomas e na isquemia. Além disso, estes pacientes foram comparados com aqueles que foram incluídos no ISCHEMIA (somente se diferenciaram na presença de doença obstrutiva).
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Os pacientes com INOCA incluídos no CIAO foram muito mais frequentemente mulheres (66% vs. 26%) que os do ISCHEMIA com doença obstrutiva (p < 0,001). Apesar disso, a magnitude da isquemia foi similar entre as duas coortes (média de 4 segmentos isquêmicos).
Os sintomas (angina) não se correlacionaram com a isquemia nos pacientes incluídos no CIAO mas tampouco se correlacionaram naqueles incluídos no ISCHEMIA.
Após um ano de tratamento se conseguiu normalizar o resultado do ecocardiograma sob estresse na metade dos pacientes do CIAO, ao passo que um quarto continuou com isquemia induzível de grau moderado ou severo (> de 3 segmentos). A angina melhorou quase na metade dos pacientes (43%) mas não necessariamente nos mesmos em que houve uma melhora da isquemia. De fato, não houve nenhuma correlação.
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São estas inconsistências entre sintomas e sinais o que faz com que seja tão desafiante tratar os pacientes com INOCA.
Conclusão
O tratamento melhorou a isquemia e a angina nos pacientes com INOCA, embora não tenha sido observada correlação entre ambas. Os graus de isquemia induzível foram similares entre a coorte do CIAO (que não apresentava lesões obstrutivas), e a do ISCHEMIA (que, ao contrário, apresentavam).
Título original: Natural History of Patients with Ischemia and No Obstructive Coronary Artery Disease: The CIAO-ISCHEMIA Study.
Referência: Harmony R. Reynolds et al. Circulation. 2021 Jun 1. Online ahead of print. doi: 10.1161/CIRCULATIONAHA.120.046791.
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