A valva aórtica bicúspide é a má formação cardíaca mais frequente (em torno de 1%) e uma porcentagem importante delas gera estenose aórtica severa.
Como sabemos, o TAVI foi desenvolvido para as valvas tricúspides, as quais foram incluídas nos estudos randomizados mais importantes para alto, médio e baixo risco.
Embora a informação atual demonstre que o TAVI tem bons resultados em válvulas bicúspides de pacientes com risco alto ou intermediário, em baixo risco ainda não temos muita informação.
Fez-se uma análise do estudo PARTNER 3, mais precisamente dos pacientes que tinham sido incluídos no registro de válvulas bicúspides. Estes pacientes foram comparados com aqueles que tinham sido incluídos no estudo com valvas aórticas tricúspides.
O desfecho primário foi a combinação de mortalidade por qualquer causa, AVC e re-hospitalização cardiovascular (relacionada com a válvula, o procedimento e a insuficiência cardíaca).
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Foram incluídos 169 pacientes com valva aórtica bicúspide (VAB) e 496 com valva aórtica tricúspide (VAT).
Os pacientes com VAB eram mais jovens e com maior proporção de mulheres. A maioria destes pacientes apresentava uma morfologia Sievers Tipo 1. Além disso, tinham um escore de risco mais baixo e menos fatores de risco com um anel valvar maior. Por tal motivo, realizou-se um propensity score matching para homogeneizar as populações e ficaram 148 pacientes em cada grupo. O anel valvar foi maior nos pacientes com VAB.
Em 30 dias não houve diferenças entre o grupo VAB no que se refere a mortalidade (0% vs. 0%) AVC (1,4% vs. 1,4%), re-hospitalização (5,4% vs. 4,7%) ou na combinação desses eventos. Do mesmo modo, o índice foi similar no que se refere à taxa de marca-passos definitivos (6,1% vs. 6,8%). O perfil hemodinâmico no eco-Doppler também foi similar e a presença de regurgitação moderada ou severa foi muito baixa nos dois grupos.
Em um ano de seguimento observaram-se resultados similares no desfecho secundário (10,9% vs. 10,9%), morte (0,7% vs. 1,4%), AVC (2,1% VS. 2%) e re-hospitalização (9,6% vs. 9,5%). A classe funcional e a qualidade de vida também apresentaram equivalências entre os grupos.
Conclusão
Entre pacientes altamente selecionados com valva aórtica bicúspide de baixo risco cirúrgico sem um raphe importante ou calcificação subanular, o TAVI com SAPIEN 3 demonstrou uma evolução similar em uma coorte equiparada de pacientes com estenose aórtica tricúspide.
Dr. Carlos Fava.
Membro do Conselho Editorial de SOLACI.org
Título Original: The PARTNER 3 Bicuspid Registry for Transcatheter Aortic Valve Replacement in Low-Surgical-Risk Patients.
Referência: Mathew R. Williams, et al J Am Coll Cardiol Intv 2022;15:523–532.
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