Leak periprotético em oclusão de apêndice atrial esquerdo, algo mais que um valor para levar em conta

Segundo diversos registros, chegou-se a observar até 30% de oclusão incompleta do apêndice atrial esquerdo (AAE) após a colocação de dispositivos de oclusão de dito apêndice (LAAO). A principal causa dessa complicação é a desproporção observada entre o dispositivo e o óstio do AAE, que apresenta uma forma elíptica de comprimento variável, ao passo que o dispositivo Watchman é circular com tamanhos preestabelecidos. Essa falta de uma exclusão completa pode gerar um leak peridispositivo (LPD), o que leva a uma estase sanguínea e à posterior formação de trombos que poderiam migrar à circulação sistêmica. 

Leak periprotésico en cierre de orejuela, algo más que un valor para tener en cuenta

Nos grandes trabalhos, aceitava-se um valor de LPD de até 5 mm para permitir a suspensão da anticoagulação (varfarina) após 45 dias, para continuar posteriormente com dupla antiagregação plaquetária (DAPT) por seis meses. 

O objetivo deste trabalho foi avaliar o comportamento dos pacientes com LPD 5, em um seguimento de 5 anos, comparados com aqueles que não apresentam LPD. 

Foram incluídos pacientes dos estudos randomizados PROTECT-AF e PREVAIL e do registro prospectivo CAP2, nos quais o dispositivo usado tivesse sido o Watchman 2,5 (5 tamanhos). Os desfechos primários foram AVC isquêmico/embolia sistêmica, morte cardiovascular e mortalidade por todas as causas. 

Foram 1054 os pacientes analisados, a idade média foi de 74 anos, 65% dos quais eram do sexo masculino, com um escore de CHA2DS2-VASC = 4. A ausência de leak foi relatada em 60,2% dos casos e em 38,3% constatou-se LPD 5. Ao analisar as características basais, os pacientes com LPD apresentaram mais diabete (34% vs. 28%; p = 0,033) e mais antecedente de AVC isquêmico (17,6% vs. 12,8%; p = 0,033). Ao considerar as características relacionadas com o procedimento, os pacientes que apresentaram LPD tinham maior diâmetro (p = 0,002) e maior comprimento (p = 0,014) do óstio do AAE. 

Leia também: Deformação longitudinal de um stent com a técnica de POT.

Os pacientes com LPD foram divididos em subgrupos com leak 3 após 45 dias e, no seguimento, 47% evidenciou desaparecimento do leak após um ano. Já no subgrupo de pacientes com leak 3 e 5 o desaparecimento do LPD foi de 24%. 

Comparando-se a ausência de leak após 45 dias, a presença de LPD 5 não se associou de maneira significativa com um risco de AVC isquêmico ou embolia sistêmica (9,2 vs. 6,6; p = 0,141), morte cardiovascular (8,8 vs. 10,3%; p = 0,350) ou mortalidade por todas as causas (18,5% vs. 21,5%; p = 0,350). 

Por outro lado, a presença de LPD no controle com ecocardiograma transesofágico no seguimento de um ano se associou com uma maior quantidade de eventos, sobretudo isquêmicos/embólicos (HR: 1,92, IC 95% 1,14-3,25; p = 0,0149) sem apresentar maior mortalidade cardiovascular (10,1% vs. 8,6%; p = 0,382) ou por todas as causas (16,2% vs. 18,3%; p = 0,515). Essas variáveis foram posteriormente ajustadas, evidenciando os mesmos resultados. 

Leia também: A fisiologia coronariana é útil na deterioração da função renal.

Ao hierarquizar os eventos de AVC, a presença de LPD se associou a maior incidência de AVC não incapacitante (HR 2,03, IC 95% 1,06-3,89; p = 0,033), mas não de AVC fatal ou incapacitante. 

CONCLUSÕES

Evidenciou-se que a presença de leaks pequenos (3) podem diminuir ou desaparecer (47%) em seu seguimento anual. Por outro lado, a presença de leaks 5 se associou, no seguimento de um ano, a quase o dobro de risco de AVC isquêmico ou embolia sistêmica em 5 anos, principalmente devido à ocorrência de AVC não fatal (dados coincidentes com os resultados mostrados nas cirurgias nas quais não se pode realizar uma oclusão completa). No entanto, o maior risco de eventos vasculares observados não se traduziu em um aumento da mortalidade. 

Dr. Omar Tupayachi

Dr. Omar Tupayachi.
Membro do conselho editorial da SOLACI.org.

Título Original: Impact of Peridevice Leak on 5-Year Outcomes After Left Atrial Appendage Closure.

Fonte: Dukkipati SR, Holmes DR Jr, Doshi SK, Kar S, Singh SM, Gibson D, et al. Impact of peridevice leak on 5-year outcomes after left atrial appendage closure. J Am Coll Cardiol. 2022;80(5):469-83. Disponible en: http://dx.doi.org/10.1016/j.jacc.2022.04.062.


Subscreva-se a nossa newsletter semanal

Receba resumos com os últimos artigos científicos

Mais artigos deste autor

Remodelamento cardíaco após a oclusão percutânea da CIA: imediato ou progressivo?

A comunicação interatrial (CIA) é uma cardiopatia congênita frequente que gera um shunt esquerda-direita, com sobrecarga de cavidades direitas e risco de hipertensão pulmonar...

É realmente necessário monitorar todos os pacientes após o TAVI?

Os distúrbios de condução (DC) posteriores ao implante percutâneo da valva aórtica (TAVI) constituem uma complicação frequente e podem incidir na necessidade de um...

Valvoplastia aórtica radial: vale a pena ser minimalista?

A valvoplastia aórtica com balão (BAV) foi historicamente empregada como estratégia de “ponte”, ferramenta de avaliação ou inclusive tratamento paliativo em pacientes com estenose...

Fibrilação atrial após oclusão percutânea do forame oval patente: estudo de coorte com monitoramento cardíaco implantável contínuo

A fibrilação atrial (FA) é uma complicação bem conhecida após a oclusão do forame oval patente (FOP), com incidência relatada de até 30% durante...

LEAVE A REPLY

Please enter your comment!
Please enter your name here

Artigos Relacionados

Congressos SOLACIspot_img

Artigos Recentes

Assista novamente: Embolia Pulmonar em 2025 — Estratificação de Risco e Novas Abordagens Terapêuticas

Já está disponível para assistir o nosso webinar “Embolia Pulmonar em 2025: Estratificação de Risco e Novas Abordagens Terapêuticas”, realizado no dia 25 de...

Um novo paradigma na estenose carotídea assintomática? Resultados unificados do ensaio CREST-2

A estenose carotídea severa assintomática continua sendo um tema de debate diante da otimização do tratamento médico intensivo (TMO) e a disponibilidade de técnicas...

Remodelamento cardíaco após a oclusão percutânea da CIA: imediato ou progressivo?

A comunicação interatrial (CIA) é uma cardiopatia congênita frequente que gera um shunt esquerda-direita, com sobrecarga de cavidades direitas e risco de hipertensão pulmonar...