A calcificação do segmento fêmoro-poplíteo pode gerar complicações tanto para a preparação como para a execução de um tratamento nos pacientes com doença arterial periférica. Pode produzir, por exemplo, uma expansão subótima do vaso, associando-se a maior risco de dissecção ou perfuração. Tais efeitos adversos podem afetar a durabilidade do procedimento endovascular a longo prazo.
Nos trabalhos em que se realizou angioplastia com balão farmacológico em pacientes com calcificação difusa, evidenciou-se uma menor perviedade a longo prazo em comparação com aqueles que não apresentaram calcificação.
A litotripsia intravascular (IVL) surgiu como uma alternativa para esses casos, por meio da utilização de múltiplos emissores de energia acústica pulsátil para fraturar o cálcio superficial e profundo sem afetar os tecidos locais. Devido a ditas características, a técnica aperfeiçoaria a preparação do vaso a ser tratado, melhorando assim a concordância luminar e facilitando o tratamento endovascular.
O objetivo deste trabalho foi relatar a perviedade primária de um ano e dois anos dos pacientes incluídos no estudo Disrupt PAD III, que foi um estudo randomizado para avaliar a segurança e a efetividade da IVL vs. angioplastia transluminal percutânea (ATP) como preparação para uma estratégia definitiva.
Foram incluídos pacientes claudicantes ou com dor em repouso (Rutherford 2-4) e evidência angiográfica de estenose de mais de 70% na artéria femoral superficial e/ou poplítea, lesões com um comprimento máximo de 180 mm (ou 100 mm em caso de CTO), com um diâmetro de referência de 4-7 mm e moderada a sevara calcificação.
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Foram randomizados 153 pacientes a IVL e 153 a ATP, seguidos posteriormente com um tratamento definitivo com balão farmacológico (DCB) ou em caso de uma preparação fracassada antes do DCB, a realização de provisional stenting.
O desfecho primário (DP) de efetividade foi o sucesso do procedimento definido com uma estenose residual inferior a 30% sem dissecção limitante de fluxo. O desfecho secundário (DS) foi a perviedade primária em um ano, definida como ausência de nova revascularização guiada por sintomas, seguimento ecocardiográfico Doppler ou angiográficos.
O DP de efetividade evidenciou um maior sucesso do procedimento no ramo IVL em comparação com o ramo ATP (65,8% vs. 50,4%, p = 0,065). Também se observou, no seguimento de um ano, uma perviedade primária superior não estatisticamente significativa (80,5% vs. 68%, p = 0,17). Foi feita uma análise multivariada, na qual se demonstrou que os preditores independentes de perviedade primária foram o uso de IVL, idade superior a 75 anos e lesões não CTO.
Leia também: Deformação longitudinal de um stent com a técnica de POT.
A perviedade primária se manteve maior a favor do IVL no seguimento de dois anos (74,4% vs. 57,7%), não tendo sido observados efeitos adversos maiores (IVL 0% vs. ATP%, p = 0,15).
Conclusões
O estudo Disrupt PAD III é o trabalho randomizado mais importante sobre uso de IVL em lesões calcificadas. O mesmo analisa a preparação com o dispositivo ShockWave a uma estratégia definitiva (DCB ou stent provisional), evidenciando uma perviedade primária e sucesso do procedimento maior com o uso da IVL. A limitação do estudo, ao analisar superioridade, é não poder realizar uma comparação com outros dispositivos de modificação do cálcio como os dispositivos de aterectomia. Essa falta de comparação limita a escolha de um em relação ao outro, bem como a possibilidade de estabelecer um gold standard para o tratamento das calcificações.
Dr. Omar Tupayachi.
Membro do Conselho Editorial da SOLACI SOLACI.org.
Título Original: Intravascular Lithotripsy for Peripheral Artery Calcification: Mid-term Outcomes From the Randomized Disrupt PAD III Trial.
Fonte: www.jscai.org/article/S2772-9303(22)00325-8/fulltext.
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