Uso de colchicina em estabilização de placa coronariana: resultados segundo OCT

A inflamação cardiovascular tem sido reconhecida e aceita globalmente como um fator chave na progressão da doença coronariana (DC). A inflamação pode provocar instabilidade da placa arterial, o que por sua vez pode desencadear síndromes coronarianas agudas (SCA). Recentemente, três importantes estudos randomizados (CANTOS, COLCOT e LoDoCo2) demonstraram que fazer foco na inflamação como alvo terapêutico contribui para a redução dos eventos cardiovasculares. 

Colchicina post infarto: buenos resultados y costo-efectivo

Embora historicamente a colchicina tenha sido utilizada para tratar a gota e a pericardite, nos últimos antos também foi aprovada para reduzir o risco cardiovascular em pacientes adultos com EC. 

O objetivo deste estudo, denominado COLOCT, foi avaliar os efeitos da colchicina na caracterização da placa coronariana mediante tomografia de coerência ótica (OCT). 

Yu et al. realizaram um estudo randomizado e unicêntrico no Union Hospital do Tongji Medical College, Universidade da ciência e Tecnologia de Huazhong, China. Foram incluídos pacientes a partir dos 18 anos que tinham sido hospitalizados por SCA no último mês, com ao menos uma lesão não culpada com estenose de 30-70% por estimativa visual, depois de completar a revascularização planejada, e com uma imagem de OCT que mostrava uma placa rica em lipídios (arco lipídico > 90°).

Foram excluídos pacientes alérgicos à colchicina, com alterações hepáticas ou renais de base, com trombocitopenia, doença imunológica conhecida, antecedentes de bypass coronariano ou doença do tronco da coronária esquerda. 

Leia também: Resultados a longo prazo da utilização de OCT para guiar ATC em pacientes com IAMCEST.

Os pacientes foram randomizados em uma proporção 1:1 a receber colchicina 0,5 mg ao dia ou um placebo durante 12 meses. A avaliação com OCT (2.7F Dragonfly OPTIS) foi feita no início, identificando as lesões intermediárias não culpadas, e novamente em 12 meses de seguimento para avaliar o impacto do tratamento. 

O desfecho primário foi a mudança na espessura da capa fibroso (FCT) em 12 meses em comparação com o início. Os desfechos secundários incluíram mudanças no arco lipídico, acumulação de macrófagos, a incidência de ateroma de alto risco (TCFA), a área luminal mínima, a mudança nos níveis séricos de biomarcadores inflamatórios e a ocorrência de eventos cardiovasculares maiores (MACE).

Foram incluídos um total de 128 pacientes, randomizados a receber colchicina ou placebo, além de um tratamento de base conforme os guias clínicos nacionais. A idade média foi de 58,0 ± 9,8 anos, 25% da população esteve composta por mulheres, com 25% de diabéticos, e 31,3% de antecedentes de DC (10.1% com angioplastia coronariana prévia). O tempo médio desde a SCA até a randomização foi de 12,1 ± 7,7 dias.

Os parâmetros basais de OCT não mostraram diferenças significativas entre os grupos de placebo e colchicina. O desfecho primário, a mudança absoluta na FCT em 12 meses, foi de 51,9 μm (IC 95%: 32,8 a 71,0) no grupo placebo e 87,2 μm (IC 95%: 69,9 a 104,5) no grupo de colchicina, com uma diferença de 34,2 μm (IC 95%: 9,7 a 58,6); p = 0,006. Em relação aos parâmetros secundários, a terapia com colchicina reduziu significativamente as mudanças no arco lipídico médio (diferença de –10,5° [IC 95%: –17,7° a –3,4°]; p = 0,004) e na extensão angular dos macrófagos (diferença –6,0° [IC 95%: –11,8° a –0,2°]; p = 0,044).

Leia também: Dados tomográficos do ISCHEMIA segundo a inteligência artificial e o risco cardiovascular.

A diferença na incidência de TCFA durante o seguimento não foi significativa (OR: 0,8 [IC 95%: 0,5 a 1,3]; p = 0,367). No entanto, nos parâmetros de laboratório, a colchicina reduziu significativamente os níveis de proteína C reativa (diferença 0,5 [IC 95%: 0,3 a 1,0]; p = 0,046), IL-1 (diferença 0,7 [IC 95%: 0,6 a 0,9]; p = 0,003), e outros marcadores como IL-18 e AZU1.

Os eventos cardiovasculares maiores (MACE) foram relatados em 17,3% dos pacientes do grupo placebo e em 11,5% dos tratados com colchicina (p = 0,402). 

Conclusões

Este estudo demonstrou que a estabilização da placa melhorou com o tratamento com colchicina, refletindo-se em um maior incremento da espessura da capa fibrosa (FCT), uma diminuição no arco lipídico e uma redução na infiltração de macrófagos. 

Título Original: Effect of Colchicine on Coronary Plaque Stability in Acute Coronary Syndrome as Assessed by Optical Coherence Tomography: The COLOCT Randomized Clinical Trial. 

Referência: Yu M, Yang Y, Dong SL, Zhao C, Yang F, Yuan YF, Liao YH, He SL, Liu K, Wei F, Jia HB, Yu B, Cheng X. Effect of Colchicine on Coronary Plaque Stability in Acute Coronary Syndrome as Assessed by Optical Coherence Tomography: The COLOCT Randomized Clinical Trial. Circulation. 2024 Aug 21. doi: 10.1161/CIRCULATIONAHA.124.069808. Epub ahead of print. PMID: 39166327.


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Dr. Omar Tupayachi
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