TAVI e fibrilação atrial: que anticoagulantes deveríamos usar?

A prevalência de fibrilação atrial (FA) em pacientes submetidos a TAVI varia entre 15% e 30%, dependendo das séries. Essa arritmia está associada a um maior risco de eventos embólicos e AVC isquêmico, o que incrementa a taxa de hospitalização, mortalidade, incapacidade, aumentando também os custos do tratamento. 

O uso de anticoagulantes em dito contexto é crucial; no entanto, atualmente não se dispõe de informação concludente sobre se é preferível utilizar antagonistas da vitamina K (VKA) ou os novos anticoagulantes orais (DOAC). 

O estudo ENVISAGE-TAVI AF, prospectivo e randomizado, incluiu 1377 pacientes com fibrilação atrial que tinham sido submetidos a TAVI. Dentre eles, 41 (3%) apresentaram um AVC isquêmico: 19 receberam endoxabana (EDX) e 22 VKA. Os 1336 pacientes restantes sem AVC isquêmico foram divididos em 673 que receberam EDX e 663 que receberam VKA. 

Os pacientes foram designados aleatoriamente a receber anticoagulação entre as 12 horas e os 7 dias posteriores ao TAVI. 

OS grupos eram similares quanto às características basais: a idade média foi de 81 anos, aproximadamente a metade da população era de homens, com um escore CHA2DS2-VASc médio de 4,5, HAS-BLED de 1,6 e 18% com antecedentes de AVC ou acidente isquêmico transitório (TIA). 90% tinham hipertensão, 35% diabetes, 80% insuficiência cardíaca, 9% antecedentes de sangramento, sendo a depuração de creatinina média de 60 ml/min. O risco cirúrgico medido por STF foi de 4,5% e não houve diferenças significativas em relação ao uso de VKA ou EDX antes do TAVI. 

Leia também: Balões eluidores de fármaco com paclitaxel vs. balões eluidores de fármaco com sirolimus.

Os pacientes com AVC isquêmico prévio ou TAVI apresentaram uma maior incidência de infarto do miocárdio (IAM) e eventos embólicos não cerebrais. 

Não foram observadas diferenças na taxa de AVC isquêmico (3%) entre os grupos. A taxa de eventos foi de 2,0 por cada 100 pacientes/ano no grupo EDX e de 2,7 por cada 100 pacientes/ano no grupo VKA (HR: 1,3; IC 95%: 0,81-2,09).

Os fatores de risco independentes associados com um maior índice de AVC foram: antecedentes de eventos embólicos sistêmicos (HR 2,96; IC 95%: 1,42-6,14), uso de VKA antes do TAVI (HR 2,17; IC 95%: 1,09-4,32) e a idade avançada (especialmente pacientes com mais de 80 anos).

Leia também: Morfologia da placa e extensão dos stents com visualização de OCT.

A maior frequência dos AVC isquêmicos ocorreu dentro dos 180 dias posteriores ao TAVI, sendo mais comum nos primeiros três meses. 

Conclusão

A incidência de AVC isquêmico foi baixa em pacientes com fibrilação atrial tratados com endoxabana ou VKA depois de um TAVI bem-sucedido. No entanto, aqueles pacientes com antecedentes de eventos embólicos sistêmicos ou que utilizavam VKA antes do procedimento poderiam ter um maior risco de eventos isquêmicos após o TAVI. 

Título Original: Risk Factors of Ischemic Stroke in Patients With Atrial Fibrillation After Transcatheter Aortic Valve Implantation from the Randomized ENVISAGE-TAVI AF Trial.

Referência: Christian Hengstenberg, et a. American Journal of Cardiology, Volume 227, 98 – 104.


Subscreva-se a nossa newsletter semanal

Receba resumos com os últimos artigos científicos

Dr. Carlos Fava
Dr. Carlos Fava
Membro do Conselho Editorial da solaci.org

Mais artigos deste autor

Pré-tratamento com DAPT em síndromes coronarianas agudas: continua sendo um debate não resolvido?

Na síndrome coronariana aguda (SCA), a terapia antiplaquetária dual (DAPT) representa um pilar fundamental após a intervenção mediante angioplastia coronariana percutânea (PCI), ao prevenir...

Gradientes pós-TAVI e as consequências de sua mensuração: são equiparáveis a medição invasiva e a ecográfica?

O implante percutâneo da valva aórtica (TAVI) é considerado o tratamento de escolha em uma porcentagem significativa de pacientes com estenose aórtica sintomática. Seus...

Implante valvar percutâneo da valva tricúspide. Lux-Valve

A insuficiência tricúspide (IT) é uma entidade que se associa a uma má qualidade de vida, frequentes hospitalizações por insuficiência cardíaca e um aumento...

SMART-CHOICE 3 | Eficácia e segurança da monoterapia com clopidogrel vs. aspirina em pacientes com alto risco após uma intervenção coronariana percutânea

Gentileza do Dr. Juan Manuel Pérez. Ao finalizar a duração padrão da terapia antiplaquetária dual (DAPT) posterior a uma intervenção coronariana percutânea (PCI), a estratégia...

LEAVE A REPLY

Please enter your comment!
Please enter your name here

Artigos Relacionados

Congressos SOLACIspot_img

Artigos Recentes

Pré-tratamento com DAPT em síndromes coronarianas agudas: continua sendo um debate não resolvido?

Na síndrome coronariana aguda (SCA), a terapia antiplaquetária dual (DAPT) representa um pilar fundamental após a intervenção mediante angioplastia coronariana percutânea (PCI), ao prevenir...

Gradientes pós-TAVI e as consequências de sua mensuração: são equiparáveis a medição invasiva e a ecográfica?

O implante percutâneo da valva aórtica (TAVI) é considerado o tratamento de escolha em uma porcentagem significativa de pacientes com estenose aórtica sintomática. Seus...

Outro revés para o balão de contrapulsação? Um estudo randomizado sobre seu uso em insuficiência cardíaca crônica que progride para choque cardiogênico

O choque cardiogênico (CC) continua sendo uma entidade de altíssima mortalidade (aproximadamente 50%). Embora a maioria das terapias em dito contexto tenham sido estudadas...