Técnica de RODIN-CUT: cutting balloon sucessivo em lesões calcificadas

A calcificação das coronárias, seja ela moderada ou severa, pode ser um marcador de mal prognóstico na doença coronariana, já que incrementa significativamente o risco de falha no implante de stents. Por isso, uma adequada preparação da lesão é fundamental para garantir uma correta expansão. Não existe, no entanto, uma técnica universal de angioplastia (PTCA) que se adapte a todos os cenários de lesões calcificadas. 

O cutting balloon (CB) é um balão especializado equipado com microlâminas ou aterótomos que geram microfraturas e incisões endovasculares controladas. O dispositivo demonstrou melhores resultados em termos de ganho luminal e área média de stent (MSA) em comparação com as angioplastias com balão convencional. Fatores como o arco do cálcio, o comprimento e a espessura da calcificação, a pressão de insuflação e a posição das lâminas influem na efetividade da preparação da placa.  

Foi avaliada, neste estudo, a técnica RODIN-CUT, que consiste em realizar múltiplas insuflações sucessivas com CB, avaliando os resultados com IVUS (Intravascular Ultrasound, Opticross HD 60 MHz) depois de cada insuflação. O objetivo do estudo foi avaliar a aplicabilidade da técnica nos primeiros casos tratados. 

Metodologia

Empregou-se, para a técnica, um cateter guia (CG) de 7 Fr, que permite o uso simultâneo de IVUS e CB. Inicialmente foi feito um pullback com IVUS, retirando-o até o CG. Depois o CB foi posicionado na lesão a tratar, enquanto a ponta distal do IVUS foi colocada perto do CB. Foram feitas insuflações do CB a uma pressão de 16-18 atm durante 5-10 segundos por cada ciclo (fazendo-se um mínimo de cinco insuflações consecutivas). Após a insuflação, foram obtidas imagens com IVUS. 

Leia também: TAVI e o bailout cirúrgico: tendências temporais e implicações clínicas.

O sucesso do procedimento foi definido como uma estenose residual < 30% e um fluxo distal TIMI 3.

O caso 1 era uma PTCA de circunflexa ostial com uma MLA de 2,34 mm2 e um arco de 340º, sendo que depois de cada insuflação se observou um aumento da MLA a 2,34-2,42-4,56-6,32 mm2, bem como uma redução do arco de 340º a 180º, 160º e, finalmente, 120º. A MSA pós-procedimento foi de 11,75 mm2 e observou-se um excelente fluxo. 

O caso 2 foi uma reestenose com uma calcificação concêntrica e MLA de 4,47 mm2 e 2,5 mm de comprimento. Observou-se como a MLA aumentou de 4,47 a 5,91, 5,56, 6,04 e 6,61, com uma diminuição do arco de cálcio de 340º a 200º, 160º e 120º. Posteriormente foi tratada uma lesão com morfologia de cálcio nodular e uma MLA de 3,73 mm2, com incremento de 3,73 a 5,14, 5,76 e 7,48 mm2 e com uma MSA pós-stent de 10,51 mm2 e um índice de excentricidade de 0,85.

Por último, é descrita uma lesão ostial de coronária direita com MLA de 2,04 mm2 e um arco de 310º, tendo sido o aumento de MLA de 2,04 a 6,98 mm final, sem serem observadas dissecções maiores. A MSA pós-stent foi de 14,88 mm2 e o índice de excentricidade foi de 0,86. 

Leia também: A revascularização melhora a fração de ejeção nas oclusões totais crônicas?

A efetividade observada mediante imagens intravasculares posiciona a técnica RODIN-CUT como uma alternativa promissora para o manejo de calcificações coronarianas complexas. Destacou-se a importância de realizar ao menos cinco insuflações com CB, seguida da avaliação contínua com IVUS, o que permitiu uma rotação ótima do CB em cada insuflação. 

Conclusões

As múltiplas insuflações a pressões mais altas do que o habitual (respeitando a relação balão-lúmen) mostraram nesses primeiros casos um aumento significativo da MLA e uma diminuição do arco de calcificação. As dissecções controladas geradas pelas lâminas não ocasionaram eventos adversos maiores. É necessário validar os achados aqui relatados em estudos randomizados para confirmar o seu benefício. 

Título Original: Enhanced Efficiency of Sequential Cutting Balloon Angioplasty in Calcified Coronary Artery Disease: The RODIN‐CUT Technique.

Referência: Ungureanu C, Leibundgut G, Cocoi M, Gasparini G, Colletti G, Avran A, Poletti E, Moroni A, Mangieri A, Dumitrascu S, Mozid A, Boukhris M, Achim A, Zivelonghi C, Bentakhou E, Agostoni P. Enhanced Efficiency of Sequential Cutting Balloon Angioplasty in Calcified Coronary Artery Disease: The RODIN-CUT Technique. Catheter Cardiovasc Interv. 2025 Jan 5. doi: 10.1002/ccd.31387. Epub ahead of print. PMID: 39757754.


Subscreva-se a nossa newsletter semanal

Receba resumos com os últimos artigos científicos

 

Dr. Omar Tupayachi
Dr. Omar Tupayachi
Membro do Conselho Editorial do solaci.org

Mais artigos deste autor

COILSEAL: Utilização de coils na angioplastia coronariana: uma ferramenta de valor nas complicações?

A utilização de coils como ferramenta de oclusão vascular tem experimentado uma expansão progressiva, partindo de seu uso tradicional em neurorradiologia até incorporar-se ao...

Tratamento da reestenose intrastent em vasos pequenos com balões recobertos de paclitaxel

A doença arterial coronariana (DAC) em vasos epicárdicos de menor calibre se apresenta em 30% a 67% dos pacientes submetidos a intervenção coronariana percutânea...

Perfurações coronarianas e o uso de stents recobertos: uma estratégia segura e eficaz a longo prazo?

As perfurações coronarianas continuam sendo uma das complicações mais graves do intervencionismo coronariano (PCI), especialmente nos casos de rupturas tipo Ellis III. Diante dessas...

Doença de tronco da coronária esquerda: ATC guiada por imagens intravasculares vs. cirurgia de revascularização miocárdica

Múltiplos ensaios clínicos randomizados demonstraram resultados superiores da cirurgia de revascularização coronariana (CABG) em comparação com a intervenção coronariana percutânea (ATC) em pacientes com...

LEAVE A REPLY

Please enter your comment!
Please enter your name here

Artigos Relacionados

Congressos SOLACIspot_img

Artigos Recentes

COILSEAL: Utilização de coils na angioplastia coronariana: uma ferramenta de valor nas complicações?

A utilização de coils como ferramenta de oclusão vascular tem experimentado uma expansão progressiva, partindo de seu uso tradicional em neurorradiologia até incorporar-se ao...

Tratamento da reestenose intrastent em vasos pequenos com balões recobertos de paclitaxel

A doença arterial coronariana (DAC) em vasos epicárdicos de menor calibre se apresenta em 30% a 67% dos pacientes submetidos a intervenção coronariana percutânea...

Desafios contemporâneos na oclusão do apêndice atrial esquerdo: enfoque atualizado sobre a embolização do dispositivo

Embora a oclusão percutânea do apêndice atrial esquerdo seja, em geral, um procedimento seguro, a embolização do dispositivo – com uma incidência global de...