MitraClip® na vida real 

Título original: Acute outcomes after MitraClip® therapy in highly aged patients: results from the German TRAnscatheter Mitral valve Interventions (TRAMI) Registry. Referência: Wolfgang Schillinger et al. EuroIntervention 2013; 8-online publish-ahead-of-print April 2013.

Recentemente a reparação percutânea da válvula mitral com o MitraClip® (Abbott Vascular, Santa Clara, CA, USA) tem surgido como uma opção nos pacientes (ptes) com insuficiência mitral severa tanto degenerativa como funcional. O EVEREST II foi um estudo randomizado e controlado que comparou ao MitraClip® com a cirurgia convencional pelo que todos os ptes eram obviamente operáveis. O presente registro (German TRAMI registry) representa a maior série de ptes da vida real descartados de cirurgia por alto risco.

Foram incluídos um total de 1064 ptes com insuficiência mitral severa tratados com MitraClip® e foram estratificados de acordo com a idade para ver se esta variável influenciava sobre os pontos de segurança e eficácia no curto prazo. Utilizou-se o corte de 76 anos pois esta foi a média de idade da população. O subgrupo de mais de 76 anos apresentou mais frequentemente insuficiência mitral degenerativa que o subgrupo mais jovem (35.3% vs 25.6%, p<0.01) e função ventricular preservada (40.1% vs 21.8%, p<0.0001). A mortalidade intra-hospitalar não resultou diferente entre ambos grupos (2.9% idosos vs. 2.8% jovens; p=0.96) da mesma forma que o combinado de morte, infarto ou stroke (3.5% vs. 3.4%; p=0.93).

No seguimento a uma média de 80 dias o critério de avaliação combinado atinge a significância com uma maior quantidade de eventos no grupo ≥76 anos (15% vs. 9%; p<0.05) e esta diferença foi devida completamente à maior mortalidade. A análise multivariada mostrou que nem a eficácia (sucesso do procedimento e melhora na classe funcional) nem a segurança (eventos combinados intra-hospitalares) mostraram diferenças significativas quando se comparou o grupo idoso vs o grupo mais jovem.

Conclusão: 

O MitraClip tem potencial para tratar um grupo importante de pacientes com insuficiência mitral severa e alto risco cirúrgico. São necessários mais dados para identificar as características do paciente pré-procedimento que façam prever o maior benefício com a reparação percutânea.

Comentário editorial: 

Se bem que este registro incluiu a todos os pacientes possíveis, o relatório para os centros que participaram era voluntário pelo que não necessariamente trata-se de uma serie consecutiva. Tem muitas diferenças com o estudo EVEREST e a mais importante delas é a contraindicação cirúrgica, já que hoje as guias da prática clínica reservam este procedimento só para os pacientes de alto risco.

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