QRS pós TAVI, o melhor preditor para retirar com segurança o marca-passos provisório 

Título Original: Patients Without Prolonged QRS After TAVI with CoreValve Device do not Experience High-Degree Atrio-Ventricular Block. Referência: Gauthier Mouillet et al. Catheterization and Cardiovascular Interventions 81:882–887 (2013).

O bloqueio aurículo-ventricular de alto grau (BAV) no contexto da substituição valvular aórtica percutânea (TAVI) tem sido relatado com uma incidência variável (3-45%) dependendo das características da população e o tipo de prótese. Este evento ocorre somente em 30% dos casos imediatamente após a liberação da prótese, sendo a maioria dos BAV retardados dentro dos 7 dias do implante.

O objetivo deste estudo foi identificar prospectivamente preditores de desenvolver BAV retardado pós TAVI que precisarem de marca-passos definitivo (MCP). Foram analisados 104 pacientes que receberam TAVI entre 2007 e 2011 em um centro com a válvula CoreValve ReValving system (Medtronic, Northridge, CA). Destes foram excluídos 14 que tinham MCP prévio à indicação de TAVI e 11 que apresentaram BAV imediatamente após a liberação da válvula ficando 79 para a análise final. Logo do implante, evolucionaram com BAV em forma retardada 21 pacientes (27%), dos quais 17 (80%) o apresentaram dentro da primeira semana, 3 dentro do primeiro mês e só um dentro do ano.

Não houve diferenças significativas nas características clínicas ou eletrocardiográficas basais entre os que precisaram de MCP e os que não. Os pacientes que desenvolveram BAV retardado pós TAVI apresentaram uma maior duração do QRS, maior prevalência de bloqueio do ramo esquerdo e um implante mais profundo, sem embargo a duração do QRS imediatamente pós implante foi o único preditor independente de BAV retardado quando a análise multivariada foi realizada. A duração do QRS para predizer BAV retardado e a consequente necessidade de MCP teve uma área abaixo da curva ROC de 0.76 (p<0.001; 95% IC, 0.65-0.85) sendo o melhor ponto de corte 148 mseg com uma sensibilidade de 64% e uma especificidade de 73%. Porém, se abaixarmos o corte a 128 mseg, atinge-se 100% de sensibilidade para predizer a necessidade de MCP resignando alguma especificidade. No seguimento a 10 ± 8 meses nenhum paciente com uma largura de QRS ≤ 128 mseg precisou de MCP.

Conclusão: 

O bloqueio aurículo ventricular de alto grau que requer marca-passos definitivo é comum pós implante valvular aórtico percutâneo. A duração de QRS imediatamente logo do implante foi o melhor preditor deste evento. Os pacientes que, pós implante, apresentam um QRS de 128 mseg ou menos, não têm risco de bloqueio retardado.

Comentário editorial:

Este corte preciso é muito relevante para o manejo destes pacientes já que um QRS menor de 128 mseg não dá segurança, tanto para retirar em forma precoce o marca-passos provisório como para outorgar alta hospitalar. Pelo contrário, um QRS de maior duração nos estimula a sermos prudentes e esperar mais tempo para a alta, a pesar de que clinicamente o paciente possa ter condições de sair. 

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