Gentileza do Dr. José Álvarez.
Em pacientes com suspeita de embolia paradoxal – através de um forame oval pérvio (FOP) – e que apresentam alto risco de eventos tromboembólicos recorrentes, a oclusão percutânea do FOP é uma alternativa ao tratamento farmacológico. Dita oclusão demonstrou ser segura e efetiva com diferentes dispositivos que envolvem variantes tecnológicas baseadas em guarda-chuvas, discos ou desenhos bioabsorvíveis. O que não sabemos ainda é se tais diferenças – ainda que mínimas – no que se refere ao desenho, estrutura e composição têm um impacto no resultado clínico.
O objetivo deste estudo foi comparar o procedimento e os resultados clínicos em um ano de seguimento entre dois dos dispositivos utilizados para a oclusão do FOP: o dispositivo Amplatzer e o Figulla.
Embora o desenho entre ambos os dispositivos seja similar (ambos têm dois discos compostos de nitinol), no dispositivo Figulla o disco do átrio esquerdo é 2 mm menor e apresenta uma trama distinta em sua malha (uma capa de polietileno) que favorece uma endotelização mais rápida.
Este trabalho é um registro observacional de dois centros italianos, que incluiu 406 pacientes entre o ano 2007 e 2014. Os pacientes incluídos tinham sofrido AVC em 66% dos casos ou acidente cerebral transitório (TIA) nos 34% restantes. Além disso, apresentavam um curto-circuito de direita a esquerda evidenciado em um ecocardiograma transesofágico com um grau de passagem de bolhas > 1 (menos de 10 bolhas visualizadas no átrio esquerdo durante os primeiros cinco batimentos).
A técnica do implante foi conduzida por ecografia intracavitária em um dos centros e por fluoroscopia e ecocardiografia transesofágica no outro. O seguimento posterior foi realizado com ecocardiogramas transtorácicos após 24 horas, seis meses e um ano de realizado o procedimento.
O desfecho do estudo foi a presença de eventos maiores (MACE) que incluíram morte, AVC e TIA em 12 meses.
Foram implantados 179 dispositivos Amplatzer e 227 dispositivos Figulla. Os dois grupos não apresentaram diferenças significativas em suas características basais em relação à idade, sexo, grau de curto-circuito e anatomia septal, indicação de oclusão e tamanho do dispositivo. Também não houve diferenças significativas nos fatores de risco cardiovasculares, com exceção de maior incidência de hipertensão e tabaquismo entre os pacientes que receberam o dispositivo Amplatzer. 27,5% dos pacientes apresentaram um aneurisma do septo interatrial.
O procedimento foi bem-sucedido em 99,5% dos pacientes, com um tempo médio de 29,41 minutos e um tempo de fluoroscopia de 4,6 minutos. A embolização do dispositivo (0,5%), as complicações vasculares, pseudoaneurismas, fístulas arteriovenosas e hematoma > 5 centímetros foram muito baixas e não apresentaram diferenças significativas entre os dois grupos.
Também não houve MACE em nenhum dos dois grupos.
Apesar de uma tendência não determinante de maior shunt residual agudo imediatamente após o procedimento com o dispositivo Figulla, no final dos 12 meses de seguimento o shunt residual ≥ 2 foi de 4.5% com ambos os dispositivos. A única diferença encontrada após a implantação foi uma menor incidência de arritmia supraventricular com o dispositivo Figulla (9% vs. 17%; p = 0,02).
O estudo concluiu que a oclusão percutânea do FOP parece ser segura e efetiva tanto com o dispositivo Figulla quanto com o Amplatzer.
Comentário editorial
O presente estudo é o maior comparativo já realizado entre dois dispositivos utilizados para oclusão do FOP. O mesmo não foi randomizado e, consequentemente, não pode descartar vieses inerentes a este tipo de estudos. Além disso, trata-se de um trabalho a curto prazo, motivo pelo qual não se sabe se existem diferenças uma vez superados os 12 meses de seguimento. Outra limitação é que o estudo não tem suficiente poder para encontrar alguma divergência nos desfechos.
Contudo, fica confirmada a segurança e eficácia desses dispositivos para o tratamento da oclusão de FOP.
Gentileza do Dr. José Álvarez.
Título original: Amplatzer versus Figulla occluder for transcatheter patent foramen ovale closure.
Referência: Trabattoni D et al. Eurointervention 2017;12:2092-2099.
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