Dada a proximidade das Jornadas Panamá e Equador 2019, a solaci.org entrevista o Dr. Gustavo Vignolo, Vice-diretor das Jornadas, para conhecer sua visão sobre a cardiologia intervencionistas latino-americana e a importância da existência de um projeto como as Jornadas para aproximar a especialidade dos distintos destinos do continente.
– Como o senhor avalia a realidade da Cardiologia Intervencionistas na América Latina e que problemas costumam encontrar nos diferentes países que visitam com as Jornadas?
– A realidade da cardiologia intervencionistas nas diferentes regiões da América Latina é heterogênea. O que se observa em geral é que há alguns polos de desenvolvimento muito importantes mas que, devido ao fato de os recursos na América Latina serem heterogêneos, a realidade está sujeita a essa disponibilidade de recursos. Há cinco regiões ou zonas onde existe um muito bom desenvolvimento e há outras onde esse desenvolvimento é francamente menor. Isso é especialmente relevante em relação às técnicas de intervencionismos que são capazes de modificar a sobrevida da população, como é o caso da angioplastia coronariana no infarto agudo do miocárdio. Já faz alguns anos que a análise da reperfusão no infarto, tanto do ponto de vista técnico como estratégico, tem sido prioridade em cada uma das jornadas.
Existe, de forma geral, uma grande avidez por instâncias formativas em cada uma das atividades organizadas pelas Jornadas. O aspecto educativo é precisamente onde entram as Jornadas e acredito que sua utilidade é contribuir com ferramentas para que haja progresso no que se refere às aptidões dos cardiologistas intervencionistas, tanto dos que já têm especialidade como daqueles que ainda não a completaram e estão em pleno processo de formação.
De qualquer forma, é necessário instaurar instâncias formativas adicionais, e é com isso que as novas atividades das Jornadas provavelmente possam contribuir.
– De que forma se poderia dar essa contribuição?
-Por exemplo, com o desenvolvimento de jornadas temáticas nas quais se aborde uma técnica específica de cardiologia intervencionista, tanto diagnóstica como terapêutica, para colocar em dia ou gerar expertise nos cardiologistas em formação e também nos já formados, como necessidade associada ao desenvolvimento constante da especialidade. Neste último sentido, buscaremos dar contribuições na recertificação de nossa subespecialidade.
– Como se traduz na prática o selo educativo das Jornadas?
– Nas Jornadas temos uma comissão diretiva e, além disso, um comitê organizador local que se conforma em cada um dos países onde se desenvolvem as Jornadas. Ditos comitês organizam o programa científico que é combinado com atividades que são próprias das Jornadas, dando lugar ao programa definitivo.
As atividades que são próprias das Jornadas – como o Concurso de Jovens Cardiologistas (apresentação de casos por jovens, que adquirem experiência em comunicação e recebem uma devolução de um tribunal de especialistas), o segmento “Um caso, Um Aprendizado” (casos apresentados por especialistas, com um fim docente específico), o Concurso de Imagens (casos apresentados à audiência com base em imagens que devem ser reconhecidas e analisadas pelo público) – são atividades que tentamos adequar ao lugar, com uma forte ênfase na questão educativa. Os módulos do programa que são estruturados pelos organizadores locais refletem a necessidade que eles têm do ponto de vista de desenvolvimento temático (por exemplo, intervencionismos estrutural e periférico, terapia farmacológica associada à intervenção, cenários clínicos de interesse, etc.).
Em última instância, a ideia central para promover o aspecto formativo é que cada região proponha os temas que considerar de seu interesse e que isso se combine com atividades “longitudinais” das Jornadas.
– Em relação a isso, também a área conhecida como SOL SOLACI trabalha ombro a ombro com as Jornadas. O senhor pode falar um pouco sobre o Programa Solidário da SOLACI?
– O programa solidário da SOLACI é muito interessante porque tem um duplo objetivo. Por um lado, busca fazer chegar a uma população o benefício da cardiologia intervencionista em aspectos que não estão disponíveis para essa população, por diferentes motivos, mais frequentemente por falta de financiamento. Por outro lado, treina os intervencionistas locais em técnicas nas quais, justamente pelo que acabo de dizer, provavelmente não tenham expertise.
Em outras palavras, se há um procedimento que não está ao alcance da população (devido ao fato de não haver subvenção, ou porque está fora das prestações do sistema de saúde local), o programa solidário da SOLACI busca os recursos para fazer chegar ao paciente o determinado benefício, cobrindo o custo do dispositivo e respaldando com expertise os técnicos.
O interessante é que, nesse processo, os hemodinamistas locais participam dessa técnica juntamente com os proctors que a realizam, de tal maneira que adquirem experiência em áreas às quais dificilmente poderiam ter acesso. E, em alguns casos, isso é o pontapé inicial para o desenvolvimento de programas com base nessas técnicas.
– Quais são os maiores desafios diante das próximas Jornadas deste ano?
Os maiores desafios são, em princípio, manter o interesse local. Isso vai junto com o conteúdo acadêmico de cada uma das Jornadas, isto é, trata-se de um compromisso manter a melhor combinação de prestação acadêmica e interesse local para que haja repercussão no meio. Se as Jornadas não têm repercussão dificilmente vamos alcançar objetivos relevantes. O que temos que conseguir é que as Jornadas sejam uma instância importante do ponto de vista formativo para cada uma das sedes. O segundo desafio (que em realidade é uma forma de medir o anterior) é manter a tendência atual de aumento no número de participantes, que ao longo do ano alcança aproximadamente 1.500 pessoas. Trata-se de um número similar ao da assistência ao Congresso anual da SOLACI. Então, quando pensamos que o Congresso se desenvolve em somente 3 sedes, e que, por outro lado, as Jornadas percorrem mais de 13 países com sedes variadas dentro de cada país e reunindo uma audiência global similar, fica clara a importância das Jornadas como pilar das atividades societárias juntamente com o Congresso anual. Nesse sentido, as Jornadas da SOLACI são uma base de sustentação muito importante.
Eu gosto de comparar o Congresso com a angioplastia primária para o infarto. Sem dúvida esta é a melhor técnica de reperfusão, mas não está ao alcance de todos os pacientes, da mesma maneira que um grande grupo de Cardiologistas gerais e Intervencionistas não tem acesso a ele e, portanto, não desfruta de seus benefícios. Ao contrário, as Jornadas, que também são uma atividade de alto valor acadêmico, em nossa analogia corresponderia ao tratamento fibrinolítico para o infarto: é acessível para muita gente, de maneira local e economicamente razoável, gerando uma complementação ideal com o Congresso e com as demais atividades da SOLACI, como por exemplo, a página web. Portanto, acredito que a importância das Jornadas para a base societária da SOLACI é muito grande.
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