Monoterapia com Ticagrelor: estratégia válida após os 12 meses?

Estudos recentes sobre antiagregação plaquetária respaldam o uso de terapias abreviadas de dupla antiagregação (DAPT), inclusive em cenários pouco pensados, como as angioplastias complexas. 

El ticagrelor muestra beneficios en la función microvascular coronaria luego de un IAMSEST

Ao contrário, em pacientes com elevado risco isquêmico, continua havendo evidência a favor da antiagregação prolongada, principalmente com o estudo DAPT, que evidencia menor risco de eventos isquêmicos maiores com uma estratégia de dupla antiagregação para além dos 12 meses. 

Outro dos estudos recentes foi o HOST-EXAM, que evidenciou – em uma população asiática selecionada – uma diminuição de eventos cardiovasculares com a monoterapia com clopidogrel para além dos 12 meses em comparação com monoterapia com aspirina. 

No entanto, ainda não está determinado se o uso de um antiagregante mais potente como o ticagrelor poderia trazer benefícios. O objetivo deste trabalho, no qual foram analisados dados do estudo principal GLOBAL-LEADERS, foi comparar a eficácia e a segurança da monoterapia com ticagrelor com a monoterapia com aspirina para além de um ano

O GLOBAL-LEADERS incluiu pacientes com síndromes coronarianas crônicas e agudas. Foram usados stents eluidores de biolimus (BioMatrix), um mês de DAPT com ticagrelor e aspirina e posteriormente monoterapia com ticagrelor 90 mg a cada 12 horas por 23 meses ou monoterapia com aspirina depois dos 12 meses de DAPT. Para a análise foram incluídos todos os pacientes que não tiveram eventos durante o primeiro ano de DAPT após o implante do stent. 

Leia também: A cirurgia não cardíaca após o TAVI é segura.

O desfecho primário (DP) foi uma combinação de morte, infarto agudo do miocárdio e qualquer AVC. O desfecho secundário de segurança foi a presença de sangramentos maiores segundo o critério BARC (tipo 3, 4 e 5). Outros desfechos analisados foram qualquer revascularização, um desfecho composto orientado ao paciente (POCE [DP mais nova revascularização]) e eventos clínicos puros (NACE [POCE mais sangramentos BARC 3 ou 5]).

Obtiveram-se dados de 11.121 pacientes, com características basais similares. O DP foi significativamente menor em pacientes tratados com ticagrelor (HR ajustado: 0,74, IC 95% 0,58-0,96; p = 0,022), principalmente devido a uma redução da ocorrência de novo IAM (HR ajustado 0,54, IC 95% 0.36-0.82; P=0.003). O risco de nova revascularização também foi menor com o ticagrelor (HR ajustado 0,80, IC 95% 0,64-0,99; p = 0,037), sem mostrar diferença em termos de trombose do stent. Ao analisar os desfechos de segurança observou-se maior sangramento BARC tipo 3 ou 5 (HR 1,80, IC 95%: 0,99-3,30; p = 0,055) e tipo 2 (HR ajustado 1,47, IC 95%: 1,02-2,11; p = 0,027). Por sua vez, em desfechos combinados, o POCE mostrou uma redução significativa (HR 0,82, IC 95%: 0,69-0,98; p = 0,027), o que não ocorreu com o NACE (HR ajustado 0,85, IC 95%: 0,72-1,01; p = 0,069).

Conclusões

O principal achado deste estudo foi a menor taxa de eventos com ticagrelor após um ano como monoterapia, sobretudo devido a um maior risco de sangramento. O estudo conta com as limitações de se tratar de um subestudo, não pré-especificado, motivo pelo qual só pode ser considerado um gerador de hipótese. 

Ao analisar o número necessário de pacientes a tratar para diminuir o DP (foi de 145, associado com menor risco de sangramento) não se justificaria o uso da estratégia vs. a estratégia padrão de aspirina, sobretudo levando em consideração os custos do ticagrelor em comparação com os da aspirina. 

Dr. Omar Tupayachi

Dr. Omar Tupayachi.
Membro do Conselho Editorial da SOLACI.org.

Título Original: Ticagrelor monotherapy versus aspirin monotherapy at 12 months after percutaneous coronary intervention: a landmark analysis of the GLOBAL LEADERS trial.

Referencia: Ono, Masafumi et al. “Ticagrelor monotherapy versus aspirin monotherapy at 12 months after percutaneous coronary intervention: a landmark analysis of the GLOBAL LEADERS trial.” EuroIntervention : journal of EuroPCR in collaboration with the Working Group on Interventional Cardiology of the European Society of Cardiology vol. 18,5 e377-e388. 5 Aug. 2022, doi:10.4244/EIJ-D-21-00870.


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