A injúria renal aguda relacionada com o contraste iodado aumenta significativamente a morbidade e a mortalidade após uma angiografia ou uma angioplastia. Segundo alguns registros, sua prevalência pode ser de 2% da população de baixo risco e até de 50% nos pacientes de alto risco. Os fatores de risco para apresentá-la são a presença de falha renal prévia, diabetes, idade e a quantidade/tipo de contraste usado.
Como medida de prevenção (recomendação Ia) sugerem o uso de solução fisiológica 0,9%, esquema que no estudo PRESERVE (NEJM, 2018) não mostrou diferenças significativas em desfechos duros como morte, necessidade de diálise ou prevenção de injúria renal relacionada com o contraste, em comparação com o bicarbonato de sódio endovenoso ou com a administração de acetilcisteína.
O objetivo deste estudo, denominado TEATE, foi avaliar a hipótese na qual uma alcalinização efetiva com um pH > 6,0 poderia diminuir a probabilidade de ocorrência nefropatia induzida por contraste (NIC).
Foi feito um estudo randomizado, aberto, em três centros da Itália, no qual foram avaliados três ramos de intervenção. O grupo 1 recebeu somente hidratação (grupo controle) com solução salina 6 horas antes do procedimento e 12 horas depois, a uma velocidade de 1 ml/kg/h (a velocidade durante a hora prévia foi de 3 ml/kg/h). O grupo bicarbonato endovenoso recebeu hidratação com solução salina 5 horas antes a 1 ml/kg/h. Posteriormente uma solução de bicarbonato a 1,4% por uma hora (3 ml/kg/h); durante e após o procedimento continuou-se com bicarbonato a 1 ml/kg/h por 6 horas, finalizando-se com uma infusão de solução salina a 1 ml/kg/h pelas 6 horas restantes.
Por último, no grupo bicarbonato de sódio oral os pacientes receberam o mesmo tratamento que o grupo controle com solução salina prévia e posterior ao procedimento, recebendo uma hora antes e três horas depois uma dose oral de 4 g dissolvido de 60 ml (47,6 mEq).
Definiu-se como alcalinização da urina o pH > 6,0 imediatamente antes da administração de contraste; definiu-se como NIC um aumento de 25% do valor de creatinina ou diminuição de 25% da filtração glomerular.
Foram randomizados 247 pacientes, dos quais 81 foram para o grupo hidratação, 82 para o grupo bicarbonato endovenoso e 78 para o grupo bicarbonato oral. A idade média foi de 79 anos. Em 58% dos casos realizou-se somente angiografia, com um volume de contraste médio de 112 ml.
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Os pacientes que alcançaram um pH > 6 imediatamente antes da angiografia tiveram uma diferença significativamente menor de nefropatia por contraste (OR: 0,48, IC 95% 0,25-0,90, p = 0,023).
Ao analisar a porcentagem dos pacientes que alcançaram uma correta alcalinização da urina, aqueles que foram tratados com bicarbonato endovenoso ou oral demonstraram uma diferença significativa (71% e 65%, respectivamente), com um delta de pH maior no ramo endovenoso (p < 0,001). No entanto, a incidência de nefropatia não apresentou diferenças significativas entre as três estratégias (20% vs. 21% vs. 22%; p = 0,94).
Conclusões
O controle do pH previamente à um procedimento com contraste se relacionou, neste trabalho, de maneira inversa com a incidência de nefropatia com contraste, observando-se nos pacientes tratados com bicarbonato endovenoso uma melhor alcalinização. No entanto, ao comparar as estratégias com a incidência não foram observadas diferenças significativas, o que sugere que o pH é um marcador mais que um mediador da nefropatia.
Dr. Omar Tupayachi.
Membro do Conselho Editorial da SOLACI.org.
Título Original: Urine alkalinisation to prevent contrast-induced acute kidney injury: the prospective, randomised, controlled, open-label TEATE trial.
Fonte: Lombardi, Marco et al. “Urine alkalinisation to prevent contrast-induced acute kidney injury: the prospective, randomised, controlled, open-label TEATE trial.” EuroIntervention : journal of EuroPCR in collaboration with the Working Group on Interventional Cardiology of the European Society of Cardiology vol. 18,7 (2022): 562-573. doi:10.4244/EIJ-D-22-00010.
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