Seguimento de angioplastia com balões farmacológicos em território fêmoro-poplíteo em população real.
O uso de dispositivos eluidores de drogas diminuiu a taxa de reestenose em lesões obstrutivas do território femoropoplíteo em comparação com os balões convencionais ou stents convencionais (BNS). Tanto no implante de BNS quanto com relação aos stents eluidores de drogas (DES) existe o risco mecânico de fratura do stent ou a degeneração aneurismática do segmento tratado (relatada em algumas séries), motivo pelo qual o uso de balões com eluição de fármaco (DCB) poderia ser uma alternativa para evitar os mencionados efeitos adversos.
O objetivo deste estudo foi pesquisar a liberdade de reestenose em 1 ano após o tratamento endovascular com DCB para doença femoropoplítea sintomática.
O estudo foi feito baseando-se nos dados POPCORN (Prospective Multicenter Registry of Drug-coated balloon for femoropopliteal disease), do Japão, país que tem a particularidade de não ter autorizado o uso de dispositivos de aterectomia em território periférico, além de ser pouco frequente ali a estratégia de stent com bailout devido às políticas de reembolso (somente 3,5% dos casos).
Foi feita uma pré-dilatação 1:1 ou 1 mm menos e foram usados dois tipos de DCB, segundo a escolha do operador: o Lutonix e o IN.PACT Admiral.
O desfecho primário foi a liberdade de reestenose no seguimento. Os desfechos secundários foram a liberdade de revascularização do vaso, o salvamento do membro, a liberdade de qualquer reintervenção, efeitos adversos maiores relacionados com o membro e mortalidade por todas as causas.
Foram analisados 2507 pacientes com 3165 lesões. A idade média foi de 75 ± 9 anos, 64,9% da população era do sexo masculino, 65,4% diabéticos e 29% com doença renal crônica. Em termos clínicos, 31,2% dos pacientes foram diagnosticados com isquemia crítica. Em termos angiográficos, o comprimento médio das lesões era de 13,5 ± 9,3 mm, com um diâmetro médio de 4,8 ± 0,9 mm, sendo 25,9% oclusões crônicas (CTO). Após a dilatação com balão, 4,6% da população apresentou algum tipo de dissecção severa, com bailout stenting em 3,5% dos casos.
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Fez-se um seguimento de 14 meses em 84,9% dos pacientes incluídos (perda no follow-up de 15,1%). Foi observada liberdade de reestenose de 84,5% (IC 95% 83,1-85,8%) e de 79,7% em 14 meses (IC 95% 78,1-81,2%), sendo as reestenoses focais na maior parte dos casos (37,4%). O índice de liberdade de revascularização em 12 meses foi de 91,5% (IC 95% 90,5%-92,5%).
As características que se associaram de maneira independente à reestenose em 1 ano foram o antecedente de revascularização (HR 1,32, IC 95% 1,01-1,73; p = 0,044), calcificação severa (HR 1,29, IC 95% 1,03-1,63; p = 0,027), CTO (HR 1,28, IC 95% 1,04-1,58; p = 0,021), uso de Lutonix (1,97, IC 95% 1,61-2,41; p ≤ 0,001) e a presença de reestenose residual (HR 1,51, IC 95% 1,24-1,83; p ≤ 0,001).
Conclusões
Neste estudo observacional foram mostrados dados de uma população real tratada quase exclusivamente com DCB (sem uso de aterectomia e com escasso número de bailout stenting), observando-se índices de reestenose e uma taxa de revascularização do vaso aceitáveis. Por sua vez, mais de dois terços foram reestenoses não oclusivas. Tanto a presença de lesões calcificadas quanto de lesão residual foram preditores de reestenose, o que deveria ser levado em conta no momento de fazer escolha de DCB em cenários similares.
Dr. Omar Tupayachi.
Membro do conselho editorial da SOLACI.org.
Título Original: Vessel Patency and Associated Factors of Drug‐Coated Balloon for Femoropopliteal Lesion.
Referência: Soga Y, Takahara M, Iida O, et al. Vessel Patency and Associated Factors of Drug-Coated Balloon for Femoropopliteal Lesion. J Am Heart Assoc. 2023;12(1):e025677. doi:10.1161/JAHA.122.025677.
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