A reoperação da valva mitral está associada com um aumento na taxa de mortalidade, motivo pelo qual o tratamento percutâneo surgiu como uma alternativa para os pacientes que previamente foram submetidos a implante de anel mitral (MVir) ou bioprótese (MViV), bem como aqueles que apresentaram uma calcificação significativa do anel mitral (ViMAC).
Atualmente contamos com informação do Registro VIVID e do MAC Global Registry. Em ditos registros, a evolução em seguimento de 30 dias nos três cenários descritos acima mostra uma mortalidade de 7,4%, 11,4% e 25% em MViV, MVir E ViMAC, respectivamente. Os resultados do Registro do TVT são similares.
A médio prazo, em seguimento de 4 anos, dispomos somente da informação do Registro VIVID, no qual os pacientes com MViV apresentavam uma maior sobrevivência em comparação com os MVir (62,5% vs. 49,5%, p < 0,001). Além disso, os pacientes com MVir mostraram uma maior insuficiência residual, o que se relacionou com uma menor sobrevivência.
O MITRAL Trial tinha mostrado uma boa evolução em 2 anos nos três cenários que aqui nos interessam.
Foi levada a cabo uma análise da evolução de 5 anos do Mitral Trial (registro prospectivo), no qual se utilizou a válvula SAPIENS 3 em pacientes que apresentavam uma falha no anel mitral, uma bioprótese cirúrgica em posição mitral ou uma calcificação severa do anel mitral. Em total, foram incluídos 91 pacientes, dentre os quais 30 foram submetidos a MViV, 30 a MVir e 31 a ViMAC.
Os pacientes submetidos a MViV tinham uma idade média de 76 anos, 63% da população deste grupo esteve composta por mulheres, a fração de ejeção era de 56%, o novo trato de saída do ventrículo esquerdo foi de 330 mm2 e o STS foi de 10,2%. Por sua vez, os pacientes com MVir tinham uma idade média de 73 anos, uma composição populacional de 37% de mulheres, uma fração de ejeção de 47%, um novo trato de saída do ventrículo esquerdo de 440 mm2 e um STS de 8,7%. Finalmente, os pacientes com ViMAC tinham uma idade média de 75 anos, 71% de população feminina, uma fração de ejeção de 63%, um novo trato de saída do ventrículo direito de 60 mm2 e um STS de 8,6%.
Em 5 anos de seguimento, a mortalidade foi menor nos pacientes submetidos a MViV em comparação com os MVir e ViMAC, como taxas de 21,4%, 65,5% e 67,9%, respectivamente. A presença de classe funcional I-II também foi menor nos pacientes submetidos a MViV em comparação com os submetidos a MVir e ViMAC, com taxas de 94,7%, 50% e 55,6%, respectivamente. Além disso, a presença de regurgitação mitral severa foi maior nos pacientes com MVir e isso se associou com maior mortalidade. Os gradientes médios foram de 6,6 mmHg, 5,8 mmHg e 6,7 mmHg, e todos os grupos experimentaram melhoras na qualidade de vida e na distância percorrida no teste dos 6 minutos.
Conclusão
Os procedimentos de MViV, MVir e ViMAC se associaram com uma melhora sustentável nos sintomas de insuficiência cardíaca e na qualidade de vida daqueles que sobreviveram durante 5 anos. O funcionamento das válvulas cardíaca transcateter se manteve estável nos três grupos. Os pacientes tratados com MViV mostraram uma excelente sobrevivência em 5 anos, ao passo que a sobrevivência foi menor nos grupos de MVir e ViMAC, o que coincide com a gravidade da doença subjacente. Os pacientes com uma maior regurgitação mitral subjacente apresentaram uma maior taxa de mortalidade.
Dr. Carlos Fava.
Membro do Conselho Editorial da SOLACI.org.
Título Original: 5-Year Prospective Evaluation of Mitral Valve-in-Valve, Valve-in-Ring, and Valve-in-MAC Outcomes. MITRAL Trial Final Results.
Referência: Mayra E. Guerrero, et al. J Am Coll Cardiol Intv 2023;16:2211–2227.
Subscreva-se a nossa newsletter semanal
Receba resumos com os últimos artigos científicos