Os dispositivos recobertos com paclitaxel (PCD) estiveram sob observação cuidadosa durante vários anos devido a uma metanálise publicada por Katsanos. Dita metanálise mostrou um aumento na mortalidade a longo prazo de até 2-5 anos nos pacientes que receberam PCD em comparação com dispositivos não recobertos no território femoropoplíteo.
O propósito por trás do uso desses dispositivos, seja com stents eluidores de paclitaxel (DES) ou com balões eluidores de fármaco (DCB) com paclitaxel, é eluir uma droga citotóxica para prevenir a reestenose nos vasos tratados. Contudo, após a metanálise, foi levada a cabo uma revisão exaustiva dos dados da literatura, incluindo-se estudos randomizados e registros, entre outros. A revisão mais recente é uma análise agrupada de estudos randomizados que não encontrou associação entre o uso de PCD e a mortalidade, embora a amostra tenha sido relativamente pequena (n = 2666).
Para uma avaliação mais precisa do risco-benefício dos PCD, analisou-se a base de dados nacional da França (Système National des Données de Santé). Desta análise surgiu o estudo DETECT (Drug EluTing dEvices FrenCh safeTy survey), apresentado por Wargny et al., que comparou as taxas de mortalidade por todas as causas em pacientes submetidos a revascularização endovascular de membros inferiores.
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O estudo incluiu todos os pacientes com mais de 18 anos que tinham sido submetidos a um procedimento endovascular infrainguinal entre outubro de 2011 e dezembro de 2019. Foram excluídos os pacientes com inconsistências na base de dados. Dois grupos foram comparados: o de PCD (DCB e/ou DES) e o de controle, conformado por pacientes submetidos a angioplastia com balão convencional e/ou stents metálicos desnudos ou recobertos.
A análise abrangeu 259.137 pacientes do registro, dentre os quais 20.083 (7,7%) receberam pelo menos um PCD. A distribuição foi a seguinte: 33,9% da população com DCB unicamente; 62% com DES e 4,1% com DES e DCB. Em termos gerais, o grupo de PCD era mais jovem do que o controle (média de 71 vs. 74 anos), com uma proporção similar de mulheres nos dois grupos (32,9%). Embora não tenha havido uma diferença significativa, o grupo de PCD tinha uma maior prevalência de doença coronariana (40,0% vs. 37,5%) e de doença arterial periférica com intervenções prévias (12,5% vs. 9,9%).
Além do anteriormente exposto, o grupo de PCD teve uma maior taxa de hospitalização no setor privado (62,8% vs. 55,8%), menos admissões de urgência (3,7% vs,.7,4%), menos úlceras em membros inferiores (7,7% vs. 11,0%), e uma menor mortalidade hospitalar (0,6% vs. 1,5%).
Nas análises multivariadas, o grupo de PCD mostrou um menor risco de mortalidade do que o grupo controle (HR: 0,86; IC de 95%: 0,84-0,89; p < 0,001).
Observou-se, no entanto, um maior risco de ocorrência de uma nova intervenção em membros inferiores nos pacientes com PCD (HR: 1,08; IC de 95%: 1,05-1,12; p < 0,001), junto com um menor risco de amputação e eventos cardíacos adversos maiores (MACE).
Conclusões
Este exaustivo registro analisado com dados franceses sugere que o tratamento com PCD se associa a um menor risco de mortalidade a longo prazo. Esta evidência derivada do mundo real indica, portanto, que com um adequado seguimento é possível deduzir que o uso de paclitaxel é seguro na revascularização endovascular de membros inferiores.
Dr. Omar Tupayachi.
Membro do Conselho Editorial da SOLACI.org.
Título Original: Mortality in a Nationwide Practice-Based Cohort Receiving Paclitaxel-Coated Devices for Lower Limb Peripheral Artery Disease.
Referência: Wargny M, Leux C, Chatellier G, Coudol S, Gourraud PA, Gouëffic Y. Mortality in a Nationwide Practice-Based Cohort Receiving Paclitaxel-Coated Devices for Lower Limb Peripheral Artery Disease. J Am Coll Cardiol. 2024 Apr 2;83(13):1207-1221. doi: 10.1016/j.jacc.2024.02.003. Epub 2024 Mar 25. PMID: 38538200.
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