Morfologia da placa e extensão dos stents com visualização de OCT

Os stents eluidores de fármacos (DES) de segunda e terceira geração se distinguem por suas hastes (struts) finas ou ultrafinas e pela plataforma, que evoluiu com o tempo, o que oferece uma grande capacidade de liberação e força radial, com baixas taxas de trombose e reestenose. Embora sua capacidade de expansão e força radial tenham sido detalhadamente estudadas, foram pouco pesquisadas as propriedades mecânicas longitudinais dos stents. 

Existe uma crença generalizada de que os stents se encurtam durante a expansão e a POT (otimização de aposição proximal), mas as análises in silico e in vivo demonstraram o contrário: sua extensão. Este fenômeno de alongamento pode ter importantes repercussões, como a protrusão ostial do stent, a cobertura não intencional de um ramo lateral, má aposição ou subexpansão proximal, o que incrementa o risco de falha do stent. 

Embora se conheça a interação entre a morfologia da placa e a expansão radial, o impacto sobre o comprimento do stent é menos claro. Por isso, o grupo de McGarvey et al., do King’s College de Londres, realizou uma análise com OCT (tomografia de coerência ótica) para avaliar a relação entre a morfologia da placa e o comportamento longitudinal do stent. 

Foram compilados dados do registro KODAC, um estudo retrospectivo de OCT do King’s College, sendo incluídos pacientes com lesões de novo em bifurcações (TCI ou DA/Dx) tratados com DES de segunda ou terceira geração. Foram excluídos os pacientes com intervenções coronarianas percutâneas (PCI) prévias na zona de interesse, com imagens insuficientes ou com técnicas de PCI que envolvessem a sobreposição de stents no vaso principal. 

Leia também: Impacto da doença iliofemoral nos resultados clínicos após o TAVI. Validação do escore HOSTILE.

Foi feita uma OCT e categorizadas as lesões em fibrocálcicas, fibrosas ou ricas em lipídios. Avaliou-se a expansão proximal e distal conforme os critérios do estudo ILUMIEN IV, dividindo o stent em dois segmentos virtuais e calculando a área mínima do stent (MSA) nos níveis proximal e distal. Finalmente, calculou-se o índice de expansão do stent (SEI) em função do vaso de referência. 

O DP avaliou a porcentagem de mudança no comprimento do stent desde a mensuração inicial até depois da pós-dilatação e POT. 

Entre julho de 2017 e março de 2022 foram feitas 501 angioplastias guiadas por OCT conforme o registro KODAC, dentre as quais 116 foram elegíveis para este estudo. A idade média dos pacientes foi de 66 anos, com 31% de mulheres. 53,4% dos pacientes foram tratados por uma síndrome coronariana aguda (SCA), 33% eram diabéticos e 5,3% tinham insuficiência renal crônica. Dentre as lesões estudas, 50% eram fibrocálcicas, 6,9% eram fibrosas e 43,1% eram ricas em lipídios. 

Leia também: Resultados do subestudo PROSPECT II: Relação entre a placa rica em lipídios, dentro do stent ou em suas bordas e eventos adversos clínicos depois de uma ATC em pacientes com IAM.

Os pacientes com lesões fibrocálcicas eram de maior idade e apresentavam mais antecedentes de hipercolesterolemia e diabetes. 57,8% das lesões afetavam a artéria descendente anterior e a primeira diagonal e 26,7% eram bifurcações verdadeiras (Medina 111, 101 e 011). Na maioria dos casos foram utilizados stents XIENCE eluidores de everolimus, com comprimentos de 28 mm e diâmetros de 3,0 mm, e uma superexpansão média da POT de 117%. 

A análise OCT pós-PCI mostrou uma extensão relativa do stent de 4,4%, com um aumento significativo após o implante e a pós-dilatação, passando de um comprimento nominal médio de 28,0 mm a 31,1 mm (IQR 23.9-38.2; p<0.001). A extensão variou significativamente segundo a morfologia da placa, com 3,1% em lesões fibrocálcicas, 6,4% em lesões ricas em lipídios e 3,3% em lesões fibrosas. Não foram observadas diferenças significativas na expansão do stent em função da morfologia da placa, com valores similares no SEI. 

Conclusões

A análise de McGarvey et al. é o maior estudo in vivo sobre a avaliação longitudinal de stents mediante OCT. Observou-se uma extensão média do stent de 4,4% em todas as lesões, o que representa um aumento de 1,3 mm em média. As placas ricas em lipídios mostraram o maior aumento relativo (6,4%), o que sugere que esse fator deve ser considerado durante a PCI de precisão para evitar complicações. 

Título Original: Impact of lesion morphology on stent elongation during bifurcation PCI: an in vivo OCT study.

Referência: McGarvey M, Lam LT, Razak MA, Barraclough J, O’Gallagher K, Webb I, Melikian N, Kalra S, MacCarthy P, Shah AM, Hill JM, Johnson TW, Byrne J, Dworakowski R, Pareek N. Impact of lesion morphology on stent elongation during bifurcation PCI: an in vivo OCT study. EuroIntervention. 2024 Sep 16;20(18):e1184-e1194. doi: 10.4244/EIJ-D-23-00663. PMID: 39279513; PMCID: PMC11384226.


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Dr. Omar Tupayachi
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Membro do Conselho Editorial do solaci.org

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