Dissecção espontânea da artéria coronária associada com displasia fibromuscular em outras áreas

Título original: Spontaneous Coronary Artery Dissection. Prevalence of Predisposing Conditions Including Fibromuscular Dysplasia in a Tertiary Center Cohort  Referência: Jacqueline Saw, et al. J Am Coll Cardiol Intv 2013;6:44 –52

A dissecação coronariana espontânea não aterosclerótica (DCE) é uma doença pouco frequente que se relaciona com o infarto agudo do miocárdio e a morte súbita. 

Essa patologia é mais frequente em mulheres, tendo sido relatados na literatura apenas 440 casos, no entanto é provável que seja subdiagnosticada e que a prevalência seja muito maior.

O objetivo deste estudo foi avaliar a prevalência de displasia fibromuscular (DFM) e outras condições predisponentes para a DCE.

Foram analisadas as angiografias em retrospectiva e prospectivamente entre abril de 2006 e março de 2012 em um centro. Para ser considerado DCE deve satisfazer, pelo menos, um dos seguintes critérios: 1) várias linhas radiotransparentes separando a luz verdadeira e falsa e que frequentemente retêm contraste, 2) longas obstruções que comprometem os segmentos distais ou médio com demarcação abrupta com relação ao segmento proximal e que não responde à nitroglicerina e 3) imagens intravasculares (ecografia endoluminal ou tomografia por coerência óptica) que demonstrem a dissecção.

Foram identificados 50 pacientes, dos quais 49 eram mulheres jovens (idade média 51±9.6) e magras (BMI 23.4±4) com baixa prevalência de fatores de risco cardiovascular exceto pela hipertensão (13%). Os antecedentes mais relevantes eram pós-menopausa 45%, enxaqueca 27% e depressão 29%.

Todos os pacientes foram internados por Síndrome Coronariana Aguda com elevação de troponina (15 com elevação do segmento ST e 35 sem elevação do ST). A artéria mais frequentemente comprometida foi a DA (40%) seguido pela CX e depois CD. Em 88% dos pacientes foi encontrada uma dissecção isolada; em quatro pacientes, duas dissecções separadas no mesmo vaso, e em dois pacientes mais de um vaso foram afetados. A angioplastia foi realizada em sete pacientes e cirurgia de revascularização miocárdica em dois. Todos os pacientes sobreviveram até a alta hospitalar.

Foram identificados como potenciais fatores desencadeadores situações de stress emocional intenso, exercício intenso antes ou durante o evento e, como potenciais predisponentes, a gravidez no período de um ano e o pós-parto dentro das seis semanas. 

Foi feita triagem de displasia fibromuscular em outras regiões, tendo sido encontrada displasia das artérias renais em 25 pacientes, das artérias ilíacas em 21 pacientes, das artérias cerebrais em 19 pacientes. 86% apresentavam displasia em mais de uma região.

Conclusão: 

A dissecção coronariana espontânea não aterosclerótica afeta predominantemente mulheres e é associada à displasia fibromuscular em outras regiões.

Comentário:

É importante pesquisar outras regiões quando é detectada uma dissecção coronariana espontânea e tomar as condutas adequadas para prevenir complicações. 

Cortesia Dr Carlos Fava.
Cardiologista Intervencionista.
Fundação Favaloro. Argentina.

Dr. Carlos Fava para SOLACI.ORG

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