Análise de sobrevida de pacientes com insuficiência tricúspide agrupados segundo comorbidades e variáveis ecocardiográficas.
Durante muitos anos a patologia tricúspide foi catalogada como a “valva esquecida”, devido à escassa possibilidade de tratamento, para além do controle de sintomas dos pacientes com insuficiência cardíaca. No entanto, nos últimos anos, observou-se uma melhora no tratamento da valva, seja por meio de intervenções cirúrgicas, seja mediante dispositivos percutâneos para os pacientes com elevado risco cirúrgico.
Por sua vez, a escolha do paciente passível de tratamento continua sendo uma tarefa difícil. Nos últimos tempos foram estabelecidas distintas classificações fisiopatológicas mais específicas, abstraindo-se tipos como funcional atrial, funcional ventricular, relacionadas com dispositivos implantáveis ou primária (valvar pura).
O objetivo deste estudo – realizado por um grupo de trabalho da Mayo Clinic – foi identificar distintos fenótipos comuns em insuficiência tricúspide através de uma análise de variáveis agrupadas (Clustering Analysis) e determinar se a presença de ditos fenótipos está relacionada com um prognóstico distinto.
Foram incluídos 13.611 pacientes consecutivos com insuficiência tricúspide (IT) ≥ moderada entre janeiro de 2004 e abril de 2019. Identificaram-se variáveis demográficas, clínicas e ecocardiográficas que foram diferenciadas em 5 tipos (Clusters).
O desfecho primário (DP) foi a mortalidade por todas as causas.
A idade média dos pacientes foi de 72,5 ± 13,4 anos, sendo 55,8% de sexo feminino. 55,7% apresentaram IT moderada, 19,8% moderada a severa e 24,5% severa. 57,5% dos pacientes apresentavam fibrilação atrial (FA), com um NT-ProBNP médio de 2738 pg/ml.
Leia também: Amiloidose e TAVI: tem impacto essa doença?
O Cluster 1 representava os pacientes com IT de baixo risco (grupo de referência), no qual se observou predominância do sexo feminino (65,8%), com IT moderada (74,8%), com um ventrículo direito (VD) levemente dilatado (somente 10% dos casos) e pressão do VD ≥ 50 mmHg em 30% dos casos, com pressões de preenchimento do ventrículo esquerdo (VE) normais.
O Cluster 2 foi o que incluiu mais pacientes e foi catalogado como o de maior risco. Nele, observou-se IT moderada a severa em 59% dos pacientes, dilatação de VD em 45,7%, uso de diuréticos em 68,3%, outro tipo de valvopatia esquerda em 53%, ao passo que as pressões de preenchimento do VE foram elevadas (E/e´= 20 ± 11).
O Cluster 3 incluiu pacientes com doença predominantemente pulmonar, tendo diagnóstico de DPOC em 88,5% dos casos, e sendo identificada etiologia da IT devido à hipertensão pulmonar secundária à pneumonia. Observaram-se valores aumentados de pressão sistólica do VD ≥ 50 mmHg em 65% dos casos, com pressões de preenchimento do VE em valores limítrofes (E/e´= 14,9).
No Cluster 4 foram incluídos pacientes etiquetados como “coronários”, observando-se doença aterosclerótica em 92,3% dos casos. A população era majoritariamente do sexo masculino (61,9%), com maiores diâmetros do VE (DFD 54.6±10.1mm) e nível mais baixo de fração de ejeção (41.8%±17.8%).
Leia também: TriClip: dispositivo dedicado para a insuficiência tricúspide.
O Cluster 5 incluiu pacientes com disfunção renal, principalmente secundária à diabete e à hipertensão arterial (74%). Tratou-se do Cluster com pacientes mais jovens (idade média de 66 anos) e com IT moderada a severa em 47,7% dos casos. Por sua vez, tinham pressões de enchimento elevadas com um índice de volume sistólico conservado de 62,4%.
Durante o seguimento médio de 6,5 anos, 7823 pacientes morreram. Na análise de sobrevida não ajustada de Kaplan-Meier o Cluster 1 teve a menor taxa de mortalidade (38%). Por sua vez, o Cluster 2 se posicionou com 68% (HR 2,22; P < 0,0001), o Cluster 4 com 67% (HR 2,19; P < 0,0001), o Cluster 3 com 71% (HR 2,22; P < 0,0001), e o Cluster 5 com 83% (HR 3,48; P < 0,0001). A diferença em termos de mortalidade se manteve ao ajustar conforme o grau de IT, comorbidades, escore TRIO e MELD.
Conclusões
Por meio da análise de Clusters foram identificados distintos fenótipos de pacientes com IT moderada a severa, observando-se que cada grupo apresentava diferente taxa de mortalidade. Esses dados poderiam ser úteis para identificar os pacientes que têm maior probabilidade de se beneficiar ao escolher o tratamento, independentemente da etiologia primária ou secundária de sua valvopatia.
Dr. Omar Tupayachi.
Membro do Conselho Editorial da SOLACI.org.
Título Original: The 5 Phenotypes of Tricuspid Regurgitation: Insight From Cluster Analysis of Clinical and Echocardiographic Variables.
Referência: Anand, Vidhu et al. “The 5 Phenotypes of Tricuspid Regurgitation: Insight From Cluster Analysis of Clinical and Echocardiographic Variables.” JACC. Cardiovascular interventions vol. 16,2 (2023): 156-165. doi:10.1016/j.jcin.2022.10.055.
Subscreva-se a nossa newsletter semanal
Receba resumos com os últimos artigos científicos