A insuficiência mitral (IM) primária ou degenerativa é uma valvopatia frequente. Embora na atualidade a cirurgia continue sendo o tratamento principal, um grupo de pacientes apresenta um alto risco, o que faz com que a terapia borda a borda surja como uma alternativa viável.
Sabe-se que a IM moderada ou severa está relacionada com um pior prognóstico. No entanto, a análise do gradiente médio pós-procedimento (GMPP) não foi exaustiva e a informação disponível sobre IM primária é, nesse sentido, limitada.
Foram analisados 371 pacientes submetidos ao procedimento de terapia borda a borda com MitraClip, dos registros GISE e GIOTO. Ao finalizar o procedimento, 187 pacientes apresentaram um GMPP < 3 mmHg, 77 mostraram um GMPP > 3/= 4 mmHg e 107 tiveram um GMPP > 4 mmHg.
O desfecho primário avaliado foi a morte por qualquer causa ou hospitalização devido à insuficiência cardíaca durante um período de 12 meses.
Não foram observadas diferenças significativas entre os três grupos de pacientes. A idade média foi de 85 anos, com 51% de mulheres. Além disso, 71,3% tinham hipertensão, 16,5% apresentavam diabetes, 21,2% tinham doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC), 40,4% apresentavam fibrilação atrial, 22% tinham doença coronariana e 45% tinham sido previamente hospitalizados por insuficiência cardíaca. Também é importante destacar que 10% da população tinha antecedentes de infarto, 17% tinha sido submetida a cirurgia prévia e 70% se encontrava em classe funcional III-IV. O índice de mortalidade STS foi de 3,7%.
A fração de ejeção média foi de 57%, sendo que 4,6% dos incluídos tinham uma fração de ejeção ≤ 35%. Os valores ecocardiográficos mostraram um diâmetro diastólico do ventrículo esquerdo de 53, um diâmetro sistólico do ventrículo esquerdo de 35, um volume de diástole de 110 ml e uma pressão sistólica da artéria pulmonar de 45 mmHg.
36% dos pacientes foram submetidos a implante de somente um clip, ao passo que 59% receberam dois clipes. Não se encontrou uma relação entre a quantidade de clips recebidos e o GMPP mais alto. Os pacientes com um GMPP > 3/= 4 apresentaram mais insuficiência mitral residual > 2+ ao finalizar o procedimento em comparação com os outros dois grupos.
Depois de um ano de seguimento, não foram observadas diferenças nos resultados entre os três grupos, nem em termos de mortalidade nem de hospitalizações por insuficiência cardíaca.
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Na análise multivariada o GMPP > 4 mmHg ou ≥ 5 mmHg não foi preditor de má evolução, mas o mesmo não podemos dizer do GMPP ≥4 mmHg acompanhado de um IM residual ≥ 2+(HR: 1,98; 95% CI: [1,10–3,58]).
Conclusão
Nesta coorte de pacientes com insuficiência mitral degenerativa tratados com terapia borda a borda não se encontrou uma associação entre o gradiente médio pós-procedimento e o prognóstico em seguimento de um ano. No entanto, um número considerável de pacientes experimentou um aumento no gradiente pós-procedimento e uma IM residual, e a combinação dos dois fatores parece ser um preditor sólido de eventos adversos.
Dr. Carlos Fava.
Membro do Conselho Editorial da SOLACI.org.
Título Original: Postprocedural trans‐mitral gradient in patients with degenerative mitral regurgitation undergoing mitral valve transcatheter edge‐to‐edge repair.
Referência: Francesco De Felice, et al . Catheter Cardiovasc Interv. 2023;102:310–317.
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