A insuficiência tricúspide (IT) severa é uma afecção subestimada nos sistemas de saúde e é mais comum do que se pensa, especialmente em pessoas que já ultrapassaram os 65 anos.
Dita afecção está relacionada com hospitalizações por insuficiência cardíaca, taxas de mortalidade consideráveis e uma diminuição progressiva da qualidade de vida.
A cirurgia para tratar a IT é, por si só, complicada, com taxas de mortalidade que oscilam entre 6% e 12%, podendo ser ainda maiores em algumas análises.
O tratamento “borda a borda” está se consolidando como uma alternativa viável no atual cenário.
O estudo Triluminate é um ensaio prospectivo de um só ramo que incluiu pacientes com alto risco cirúrgico que tinham IT moderada ou mais severa, sem necessidade de tratamento na valva pulmonar ou problemas no lado esquerdo do coração, mas com hipertensão pulmonar sistólica severa (> 60 mmHg) e um espaço de coaptação não superior a 10 mm.
O estudo incluiu 85 pacientes com uma pontuação média de EuroSCORE de 8,7%. A idade média dos pacientes foi de 78 anos, 66% da população estava composta por mulheres, 86% tinha hipertensão, 22% diabete, 17,6% tinha apresentado infarto prévio, 92% fibrilação atrial, 14% tinha marca-passo prévio ou dispositivos de estimulação cardíaca e 46% apresentava problemas de função renal.
A maioria dos casos de IT eram secundários, seguidos de casos degenerativos e mistos em menor proporção. A IT mais comum foi a torrencial (36,5%), seguida da massiva (28,2%), da severa (29,4%), sendo a moderada a menos frequente. Os valores ecocardiográficos incluíram um diâmetro de fim de diástole do ventrículo direito de 52 mm, um TAPSE de 1,44, uma área anular tricúspide de 14,4, um diâmetro da veia cava inferior de 23 mm e uma mudança fracional do ventrículo direito de 52 mm.
Depois de dois anos de seguimento, a mortalidade por qualquer causa foi de 16,7%, a mortalidade cardíaca foi de 13,1%, o infarto ocorreu em 1,2%, os acidentes vasculares cerebrais ocorreram em 2,4%, a nova insuficiência renal em 3,6% e a nova fibrilação atrial em 2,4%.
Nenhum paciente experimentou embolismo nem endocardite. Houve uma melhora significativa na classe funcional, bem como uma redução de 84% nas hospitalizações por insuficiência cardíaca em comparação com o ano anterior ao implante, uma diminuição de 49% nas hospitalização em geral, uma melhora na qualidade de vida e na distância percorrida durante o teste de caminhada dos 6 minutos. Além disso, manteve-se constante a redução da IT e observou-se um remodelamento favorável do ventrículo direito.
Conclusão
Em resumo, a reparação tricúspide “borda a borda” com o uso do dispositivo TriClip demonstrou ser segura e efetiva, mantendo sua eficiência em dois anos de seguimento em pacientes com IT moderada ou mais severa. A taxa de sucesso da reparação se manteve em 75% dos pacientes nos dois anos de seguimento.
Dr. Carlos Fava.
Membro do Conselho Editorial da SOLACI.org.
Título Original: Two-Year Outcomes for Tricuspid Repair With a Transcatheter Edge-to-Edge Valve Repair From the Transatlantic TRILUMINATE Trial.
Referência: Ralph Stephan von Bardeleben, et al. Circ Cardiovasc Interv. 2023;16:e012888. DOI: 10.1161/CIRCINTERVENTIONS.122.012888.
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