Em pacientes com doença vascular periférica (EVP), a presença de diabete se associou significativamente com um aumento na falha do tratamento da isquemia crítica de membros inferiores (CLI), levando a uma maior incidência de amputações. Tal relação se atribui principalmente às comorbidades características desses pacientes, à neuropatia periférica concomitante e a uma marcante alteração microvascular. Além disso, observa-se uma proporção elevada de pacientes com doença renal crônica (ERC).
O tratamento antitrombótico somado a medidas como o exercício supervisado se estabeleceu como um pilar fundamental no manejo terapêutico de tão complexa patologia. As pautas clínicas atuais recomendam pelo menos um mês de terapia de dupla antiagregação plaquetária (DAPT) com aspirina e clopidogrel depois da revascularização endovascular. No entanto, a pesquisa sobre o impacto do DAPT em pacientes diabéticos é limitada.
O cilostazol, um agente antiplaquetário que seletivamente inibe a fosfodiesterase III, demonstrou benefícios sustentáveis em termos da melhora dos sintomas claudicantes em pacientes com EVP. Revisões sistemáticas recentes destacaram seus efeitos benéficos em termos de perviedade arterial e eventos adversos maiores relacionados com o membro (MALE) em pacientes diabéticos.
Este estudo tem o objetivo de avaliar o efeito de uma terapia antiplaquetária tripla (TTAP) com cilostazol em eventos clínicos depois de uma revascularização endovascular em pacientes diabéticos com EVP.
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Reuniram-se dados do registro K-VIS ELLA, que incluiu pacientes de 20 anos ou mais com EVP tratada de forma endovascular, excluindo aqueles com isquemia aguda de membros inferiores, doença de Buerger e revascularização periférica prévia.
O desfecho primário foi a presença de MALE, como desfechos secundários que incluíram mortalidade por todas as causas, amputação maior, amputação menor, reintervenção e sangramento maior.
A análise incluiu 990 pacientes com diabete que receberam antiagregação posterior ao tratamento de EVP, divididos em grupos TTAP (35,4%) e DAPT (64,6%).
A idade média foi de 68,7 ± 8,7 anos e 77% da população esteve composta por homens. Os pacientes com TTAP em geral apresentaram maior prevalência de doença coronariana e menor incidência de ERC. Por outro lado, tiveram menor índice tornozelo-braço e uma maior prevalência de doença oclusiva total, sendo a femoropolítea a localização mais frequente.
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Ao longo de um seguimento médio de 499 dias, observou-se uma menor incidência de MALE no grupo TTAP em comparação com o grupo DAPT (16,6% vs. 21,2%; log-rank p = 0,045). Contudo, depois de levar a cabo uma análise de propensão, não foram encontradas diferenças significativas (16,6% vs. 19,4%; log-rank p = 0,260). O grupo TTAP também mostrou uma menor incidência de amputação menor tanto na análise global quanto depois do escore de propensão. Não foram observadas diferenças nos desfechos de mortalidade total, amputação maior, reintervenção ou sangramento maior durante o seguimento.
Na análise multivariada a ERC, a doença coronariana e a insuficiência cardíaca congestiva foram identificados como preditores independentes de MALE. Fez-se uma subanálise conforme a apresentação clínica que evidenciou que em pacientes com CLI a TTAP mostrou uma tendência a uma menor incidência de MALE.
Conclusões
Em síntese, a adição de cilostazol ao tratamento padrão de DAPT se associou a uma menor taxa de amputações menores em pacientes tratados de maneira endovascular por EVP.
Os resultados mostrados neste registro com eventos duros como MALE poderiam posicionar o cilostazol como parte do padrão, para além do seu conhecido efeito sintomático na caminhada.
Dr. Omar Tupayachi.
Membro do Conselho Editorial da SOLACI.org.
Título Original: Effect of Cilostazol on Patients With Diabetes Who Underwent Endovascular Treatment for Peripheral Artery Disease.
Referência: Cha JJ, Cho JY, Lim S, Kim JH, Joo HJ, Park JH, Hong SJ, Lim DS, Kook H, Lee SH, Ko YG, Min PK, Lee JH, Yoon CH, Chae IH, Lee SW, Lee SR, Choi SH, Koh YS, Yu CW. Effect of Cilostazol on Patients With Diabetes Who Underwent Endovascular Treatment for Peripheral Artery Disease. J Am Heart Assoc. 2023 Jun 20;12(12):e027334. doi: 10.1161/JAHA.122.027334. Epub 2023 Jun 10. PMID: 37301738; PMCID: PMC10356016.
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