O tratamento percutâneo da valva mitral por insuficiência mitral (IM) está em fase de desenvolvimento e atualmente é recomendado para pacientes de alto risco ou risco proibitivo.
Vários dispositivos foram avaliados até o momento, sendo que alguns dos quais demonstraram resultados promissores. Deve-se ressaltar que ditos estudos incluíram pacientes que não eram candidatos a cirurgia.
Foi levada a cabo uma análise do estudo TENDER, que incluiu 195 pacientes com IM sintomática, dentre os quais 135 (62,3%) cumpriam com os critérios “on label” estabelecidos pelo fabricante do dispositivo (valva mitral sem intervenção mitral prévia, IM ≥ 3+, fração de ejeção ≥ 30%, diâmetro ≤ 70 mm, ausência de MAC e IM primária com um diâmetro de fim de sístole > 30 mm), ao passo que 60 pacientes não cumpriam com algum ou com todos os critérios, sendo estes denominados pacientes “do mundo real”.
O desfecho primário de segurança (DPS) foi a mortalidade cardiovascular em 1 ano, e o desfecho primário de rendimento (DPR) foi a redução da severidade da IM em um ano.
Os grupos foram similares: a idade média foi de 77 anos, 60% dos pacientes eram homens, o STS de mortalidade foi de 5,6%, 28% tinham diabetes, 57% apresentavam doença coronariana, 25% tinham recebido cirurgia de revascularização miocárdica (CRM), 13,8% tinham tido AVC prévio, 59% tinham deterioração da função renal e 25% tinham um marca-passo implantado previamente ou AICD. Todos apresentavam classe funcional III-IV.
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A causa da IM foi primária em 41%, secundária em 38,7% e mista no resto dos casos.
Os pacientes do “mundo real” apresentavam níveis mais altos de BNP; 7% tinham sido submetidos previamente a intervenção da valva mitral (5% com tratamento borda-a-borda e 2% com anuloplastia percutânea) e 12% tinham experimentado um fracasso no tratamento percutâneo.
O sucesso técnico foi de 95%, com uma taxa de conversão a cirurgia de 1,5% e migração do dispositivo em um paciente.
Em 30 dias a mortalidade cardiovascular foi de 6,7%, a mortalidade por qualquer causa foi de 3,3%, 1,55% dos pacientes sofreram um acidente vascular cerebral incapacitante, 14% apresentaram sangramento maior, 9% requereram diálise por insuficiência renal, 1,6% experimentou um infarto.
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Em um ano de seguimento o DPS foi observado em 16,9% dos pacientes e o DPR alcançou 97,9%, sem diferenças significativas entre os grupos. Foi registrada uma redução de 68% nas hospitalizações por insuficiência cardíaca em comparação com o ano prévio, 98% apresentavam regurgitação mitral ≤1+, e foi observada uma melhora significativa na classe funcional, sem diferenças entre os grupos.
Conclusão
Este registro do “mundo real” mostrou um alto e duradouro sucesso técnico, com uma eliminação completa da insuficiência mitral e benefícios clínicos, com uma taxa de mortalidade em um ano de 17%. Tal evolução foi comparável entre o uso “on label” e o “mundo real”, o que demonstra que este procedimento oferece uma opção de tratamento segura e eficaz.
Dr. Carlos Fava.
Membro do Conselho Editorial da SOLACI.org.
Título Original: Transapical Mitral Valve Replacement 1-Year Results of the Real-World Tendyne European Experience Registry.
Referência: Michaela M. Hell, et al. J Am Coll Cardiol Intv 2024;17:648–661.
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