Resultados precoces e tardios com stent bioabsorvível ABSORB

A angioplastia coronariana com stents eluidores de fármacos (DES) se associa a uma incidência anual de 2% a 3% de eventos relacionados com o stent, um risco que não diminuiu significativamente apesar das melhoras nos dispositivos. Os stents bioabsorvíveis (BVS) foram desenhados para abordar dita problemática mediante vários mecanismos: a reabsorção completa do dispositivo permitiria liberar o vaso epicárdico, restaurando a função vasomotora, e facilitaria a liberação de ramos laterais enjaulados pelo stent. 

O dispositivo mais estudado é o ABSORB BVS (Abbott Vascular), cuja bioabsorção in vivo se completa aproximadamente em 3 anos. No entanto, vários estudos randomizados que comparam BVS com DES (stents eluidores de everolimus) observaram um maior risco de eventos adversos dentro dos primeiros 3 anos, devido a fatores como as hastes relativamente grossas, a faixa limitada de expansão, o fenômeno de recoil e técnicas de implante subótimas. 

O objetivo desta metanálise foi avaliar os resultados ao longo do tempo com BVS vs. DES em um seguimento de 5 anos. O desfecho primário (DS) foi a falha da lesão tratada (TLF), definida como uma combinação de morte cardíaca, infarto do miocárdio relacionado com o vaso tratado (TV-MI) ou revascularização da lesão tratada guiada por isquemia (ID-TLR). O desfecho de segurança foi a trombose do dispositivo. 

Leia também: É necessário realizar angioplastia em todos os pacientes depois do TAVI?

Foram incluídos 5988 pacientes, dentre os quais 3457 foram randomizados ao grupo BVS e 2531 ao grupo DES. Entre 0 e 5 anos, o TLF ocorreu em 15,9% dos pacientes com BVS vs. 13,1% dos pacientes com DES (HR: 1,25; IC 95%: 1,08-1,43; P = 0,002), ao passo que a trombose do dispositivo foi de 2,2% vs. 1%, respectivamente (HR: 2,38; IC 95%: 1,49-3,79; P = 0,0002). Entre 0 e 3 anos, o TLF foi de 12,4% com BVS vs. 9,3% com DES (HR: 1,35; IC 95%: 1,15-1,59; P = 0,0002), e a trombose do dispositivo ocorreu em 2,0% vs. 0,6%, respectivamente (HR: 3,58; IC 95%: 2,01-6,36; P < 0,0001). Em 5 anos, o TLF ocorreu em 4,5% dos pacientes com BVS vs. 4,7% com DES (HR: 0,99; IC 95%: 0,76-1,27; P = 0,91), e a trombose do dispositivo foi de 0,2% vs. 0,4%, respectivamente (HR: 0,49; IC 95%: 0,18-1,38; P = 0,17).

Conclusão

Nesta metanálise de 5 ensaios randomizados com Absorb BVS eluidores de everolimus vs. Xience EES de cromo-cobalto (Abbott Vascular) que incluiu 5.988 pacientes, as taxas de eventos isquêmicos adversos foram maiores com os BVS de primeira geração durante os primeiros 3 anos. Entretanto, o período de maior risco coincidiu com o tempo de reabsorção completa do dispositivo. Depois de dito período, as taxas de eventos foram similares entre BVS e EES, com baixa incidência de trombose do dispositivo entre 3 e 5 anos. Os BVS poderiam ser uma alternativa viável para a angioplastia coronariana se for otimizado o design do dispositivo e aperfeiçoada a técnica de implante.  

Título Original: Early and Late Outcomes With the Absorb Bioresorbable Vascular Scaffold Final Report From the ABSORB Clinical Trial Program.

Referência: David A. Power, MD et al JACC Cardiovasc Interv.2025;18:1–11. 


Subscreva-se a nossa newsletter semanal

Receba resumos com os últimos artigos científicos

Dr. Andrés Rodríguez
Dr. Andrés Rodríguez
Membro do Conselho Editorial da solaci.org

Mais artigos deste autor

COILSEAL: Utilização de coils na angioplastia coronariana: uma ferramenta de valor nas complicações?

A utilização de coils como ferramenta de oclusão vascular tem experimentado uma expansão progressiva, partindo de seu uso tradicional em neurorradiologia até incorporar-se ao...

Tratamento da reestenose intrastent em vasos pequenos com balões recobertos de paclitaxel

A doença arterial coronariana (DAC) em vasos epicárdicos de menor calibre se apresenta em 30% a 67% dos pacientes submetidos a intervenção coronariana percutânea...

Perfurações coronarianas e o uso de stents recobertos: uma estratégia segura e eficaz a longo prazo?

As perfurações coronarianas continuam sendo uma das complicações mais graves do intervencionismo coronariano (PCI), especialmente nos casos de rupturas tipo Ellis III. Diante dessas...

Doença de tronco da coronária esquerda: ATC guiada por imagens intravasculares vs. cirurgia de revascularização miocárdica

Múltiplos ensaios clínicos randomizados demonstraram resultados superiores da cirurgia de revascularização coronariana (CABG) em comparação com a intervenção coronariana percutânea (ATC) em pacientes com...

LEAVE A REPLY

Please enter your comment!
Please enter your name here

Artigos Relacionados

Congressos SOLACIspot_img

Artigos Recentes

COILSEAL: Utilização de coils na angioplastia coronariana: uma ferramenta de valor nas complicações?

A utilização de coils como ferramenta de oclusão vascular tem experimentado uma expansão progressiva, partindo de seu uso tradicional em neurorradiologia até incorporar-se ao...

Tratamento da reestenose intrastent em vasos pequenos com balões recobertos de paclitaxel

A doença arterial coronariana (DAC) em vasos epicárdicos de menor calibre se apresenta em 30% a 67% dos pacientes submetidos a intervenção coronariana percutânea...

Desafios contemporâneos na oclusão do apêndice atrial esquerdo: enfoque atualizado sobre a embolização do dispositivo

Embora a oclusão percutânea do apêndice atrial esquerdo seja, em geral, um procedimento seguro, a embolização do dispositivo – com uma incidência global de...