Marcadores cardíacos como preditores de risco cardiovascular: utilidade para além da síndrome coronariana aguda?

As troponinas cardíacas de alta sensibilidade (TnT e TnI) são um dos pilares fundamentais no diagnóstico da síndrome coronariana aguda (SCA). No entanto, sua utilidade como ferramenta de triagem para a predição de eventos cardiovasculares ainda gera questionamentos?

Shah and Keene et al tiveram como objetivo quantificar o valor agregado das Tn em relação aso fatores de risco convencionais (FdR) na predição da doença cardiovascular (DCV).

Para isso, realizaram uma metanálise de dados individuais provenientes de 15 coortes prospectivas incluídas no consórcio CAPRICE (CArdiac troponin in the PReventIon of Cardiovascular Events), que incluiu 62.150 pacientes sem DCV documentada no início do seguimento. 

Foi avaliada a associação entre os níveis de TnT/TnI e a incidência de eventos cardiovasculares (definidos como morte, infarto agudo do miocárdio não fatal ou acidente vascular cerebral). 

Durante um seguimento médio de 10 a 12 anos foram registrados 8133 e 3749 eventos de DCV nos grupos com TnT e TnI, respectivamente. A idade média da população foi de 61 anos, com 48,5% de mulheres. 

Leia também: Tratamento percutâneo da valva pulmonar com válvula autoexpansível: resultados do seguimento de 3 anos.

Por cada desvio padrão (DP) de incremento em TnT e TnI, o hazard ratio (HR) para DCV foi de 1,31 (IC de 95%: 1,25–1,37) e 1,26 (IC de 95%: 1,19–1,33), respectivamente. A incorporação de TnT ou TnI ao modelo convencional de FdR melhorou modestamente o índice C (+0,015 e +0,012, respectivamente).

A reclassificação líquida melhorou em 6% para os casos e em 22% para os não casos com TnT e em 5% e 17% com TnI. Na análise de população simulada, foi estimado que se evitaria um evento de DCV por cada 408 (cTnT) ou 473 (cTnI) pessoas triadas e tratadas com estatinas após serem reclassificadas de risco intermediário a alto. 

Leia também: Perviedade radial em procedimentos coronarianos: a heparina é suficiente ou deveríamos buscar a radial distal?

Também se comparou a capacidade preditiva das troponinas com outros biomarcadores, observando-se um rendimento superior ao da proteína C reativa (PCR) e à taxa de filtração glomerular estimada (eGFR), e comparável ao do NT-proBNP. Não foi evidenciado um ganho adicional ao combinar troponinas com NT-proBNP. 

Conclusões

A medição de troponinas cardíacas como ferramenta complementar de triagem, juntamente com os fatores de risco tradicionais, mostrou uma modesta melhora na predição de eventos cardiovasculares. 

Título original: Cardiac Troponins and Cardiovascular Disease Risk Prediction: An Individual-Participant-Data Meta-Analysis. 

Referência: Shah, A, Keene, S, Pennells, L. et al. Cardiac Troponins and Cardiovascular Disease Risk Prediction: An Individual-Participant-Data Meta-Analysis. JACC. 2025 Apr, 85 (14) 1471–1484. https://doi.org/10.1016/j.jacc.2025.02.016.


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Dr. Omar Tupayachi
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