Infarto periprocedimento. Tem o mesmo impacto que o infarto espontâneo? 

Título original: Comparison of the Prognosis of Spontaneous and Percutaneous Coronary Intervention–Related Myocardial Infarction. Referência: Sergio Leonardi, MD et al. Journal of the American College of Cardiology Vol. 60, No. 22, 2012

O significado clínico do infarto do miocárdio (IAM) em relação à angioplastia coronariana é um assunto polêmico em todo o mundo. 

Na maioria dos trabalhos de pesquisa sobre doença cardíaca, ele é incluído entre os desfechos primários, sendo equiparado ao IAM espontâneo. O objetivo desse estudo foi comparar o prognóstico do IAM periprocedimento em contraste com o IAM espontâneo. Para a análise foram incluídos 9.087 pacientes de dois grandes estudos de síndrome coronariana aguda sem elevação do ST (EARLY-ACS e SYNERGY). Entre eles ocorreram 893 IAM periprocedimento e 298 IAM espontâneos e foi comparada a sua relação com o desenvolvimento de morte durante o ano.

Os autores definiram IAM periprocedimento como um aumento por 3 da enzima CK-Mb. A taxa de risco para a mortalidade em um ano foi de 1,39 (IC de 95% de 1,01 a 1,89) para IAM periprocedimento em contraste com 5,37 (IC de 95% de 3,9 a 7,38) para IAM espontâneo. Ao analisar qual seria o corte de CK-Mb acima do qual o IAM periprocedimento equipararia o risco do IAM espontâneo, foi observado que é necessário um aumento de 27 vezes de CK-Mb para que isto ocorra.

Conclusão: 

A definição de infarto periprocedimento utilizada nos estudos clínicos está precariamente associada a eventos ao contrário do infarto espontâneo.

Comentário editorial: 

Intuitivamente se suspeitava e este estudo confirma que a elevação das enzimas cardíacas depois de uma angioplastia não tem o mesmo valor prognóstico que ter um IAM tipo 1. Seria preciso ver se estes resultados são confirmados, utilizando a nova definição de IAM periprocedimento (aumento x 5 da troponina associado a símbolos clínicos ou elétricos ou por imagem de isquemia). De qualquer forma, os resultados deste estudo são uma boa notícia para os cardiologistas intervencionistas.

Cortesia da Dra. María Sol Andres
Hospital Universitario
Fundación Favaloro – Argentina

Dra. María Sol Andrés para SOLACI.ORG

Mais artigos deste autor

Ecografia vascular em dispositivos de oclusão percutânea: Subanálise do UNIVERSAL-Trial

Análise da colocação de dispositivos de oclusão percutânea ao escolher a abordagem femoral guiada por ecografia vs. por fluoroscopia.  O acesso transradial é a abordagem...

Segurança da acetilcolina na sala de hemodinâmica

Os conceitos sobre injúria miocárdica sem lesões coronarianas obstrutivas (INOCA) e infarto do miocárdio sem lesões coronarianas obstrutivas (MINOCA) foram estabelecidos, amplamente difundidos e...

Reserva de fluxo coronariano em pacientes com FFR intermediário: devemos utilizar essa ferramenta para decidir a realização da angioplastia coronariana?

As diretrizes atuais recomendam o uso de FFR para guiar as angioplastia coronarianas. No entanto, os valores intermediários de FFR (0,75-0,80) geram incertezas sobre...

Passive Leg Raise: uma manobra indispensável no estudo da insuficiência cardíaca com fração de ejeção preservada

A insuficiência cardíaca (IC) com fração de ejeção preservada (ICFEP) representa pelo menos 50% da população com IC, com uma prevalência em aumento. Seu...

LEAVE A REPLY

Please enter your comment!
Please enter your name here

Artigos Relacionados

Congressos SOLACIspot_img

Artigos Recentes

Estudo TRI-SPA: Tratamento borda a borda da valva tricúspide

A insuficiência tricúspide (IT) é uma doença associada a alta morbimortalidade. A cirurgia é, atualmente, o tratamento recomendado, embora apresente uma elevada taxa de...

Estudo ACCESS-TAVI: Comparação de dispositivos de oclusão vascular após o TAVI

O implante transcatéter da valva aórtica (TAVI) é uma opção de tratamento bem estabelecida para pacientes idosos com estenose valvar aórtica severa e sintomática....

Tratamento endovascular da doença iliofemoral para melhorar a insuficiência cardíaca com FEJ preservada

A doença arterial periférica (EAP) é um fator de risco relevante no desenvolvimento de doenças de difícil tratamento, como a insuficiência cardíaca com fração...