Acesso radial, 1º escolha em síndromes coronarianas agudas

Título original: Radial Versus Femoral Randomized Investigation in ST-Segment Elevation Acute Coronary síndrome. The RIFLE-STEACS (Radial Versus Femoral Randomized Investigation in ST-Elevation Acute Coronary Syndrome) Study. Referência: Enrico Romagnoli et al. J Am Coll Cardiol 2012;60:2481–9.

A hemorragia em pacientes com síndromes coronarianas agudas (SCA) é um preditor independente de morbidade e mortalidade. Até hoje, a evidência para o acesso radial surgia a partir de estudos sem capacidade suficiente para mostrar a diferença em desfechos finais clínicos difíceis.

Este estudo multicêntrico incluiu 1001 pacientes com SCA com elevação do segmento ST randomizados 1:1 para radial em contraste com femoral. Todos os pacientes foram submetidos ao teste de Allen em ambas as mãos e os operadores para se qualificarem devem realizar pelo menos 50% das angioplastias por acesso radial.

O desfecho primário foi um composto de morte cardíaca, infarto, AVC, revascularização e hemorragia não relacionada à cirurgia. As características basais da população estiveram bem balanceadas com aproximadamente 10% dos pacientes em Killip III/IV e 8% com demanda de balão de contrapulsação.

Não foram observadas diferenças nos tempos sintoma/balão e porta/balão entre os grupos. O crossover total foi de 6,1%.

O desfecho primário foi significativamente menor no grupo radial em comparação com o femoral (13,6% em contraste com 21% p=0,003). A morte cardíaca foi também significativamente menor no grupo radial (5,2% em contraste com 9.2% p=0,02) e não foram observadas diferenças no infarto (1,2% contra 1,4% p=1), na revascularização (1,2% contra 1.8% p=0,6) ou acidente vascular cerebral (0,8% contra 0.6%, p=0,72).

A hemorragia ocorreu em 10% do total e foi inferior no grupo radial (7,8% em contraste com 12,2%, p=0,026), esta diferença foi devida a uma redução de 60% da hemorragia relacionada com o acesso. A hemorragia não relacionada com o acesso, que foi de 53% de todas as hemorragias, foi semelhante entre os grupos (5,2% contra 5.4% p=1).

Usando os critérios TIMI não foram observadas diferenças em hemorragia importante, mas na hemorragia menor (radial 4% em contraste com femoral 7,2% p=0,038). A internação hospitalar também foi significativamente menor com o acesso radial.

Conclusão: 

O estudo RIFLE-STEACS demonstra claramente as vantagens do acesso radial em contraste com o femoral em pacientes com SCA com elevação do segmento ST.

Comentário editorial: 

É o primeiro estudo com poder estatístico suficiente para mostrar diferenças em desfechos clínicos graves que torna o acesso radial a primeira escolha também em situações de emergência. O baixo uso de bivalirudina (apenas 8%), o seu maior uso talvez pudesse abrandar as diferenças em termos de hemorragia e o treinamento dos operadores foram limitações do estudo.

Enquanto a redução da hemorragia e da mortalidade é dramática com o acesso radial ainda existem hemorragias não relacionadas com o local de punção, que constituem 53% do total. Devemos usar a radial, mas também avaliar os pacientes com classificações de risco hemorrágico (por exemplo, CRUSADE) para ajustar de forma personalizada os antiagregantes e antitrombóticos. 

SOLACI.ORG

Mais artigos deste autor

COILSEAL: Utilização de coils na angioplastia coronariana: uma ferramenta de valor nas complicações?

A utilização de coils como ferramenta de oclusão vascular tem experimentado uma expansão progressiva, partindo de seu uso tradicional em neurorradiologia até incorporar-se ao...

Tratamento da reestenose intrastent em vasos pequenos com balões recobertos de paclitaxel

A doença arterial coronariana (DAC) em vasos epicárdicos de menor calibre se apresenta em 30% a 67% dos pacientes submetidos a intervenção coronariana percutânea...

Perfurações coronarianas e o uso de stents recobertos: uma estratégia segura e eficaz a longo prazo?

As perfurações coronarianas continuam sendo uma das complicações mais graves do intervencionismo coronariano (PCI), especialmente nos casos de rupturas tipo Ellis III. Diante dessas...

Doença de tronco da coronária esquerda: ATC guiada por imagens intravasculares vs. cirurgia de revascularização miocárdica

Múltiplos ensaios clínicos randomizados demonstraram resultados superiores da cirurgia de revascularização coronariana (CABG) em comparação com a intervenção coronariana percutânea (ATC) em pacientes com...

LEAVE A REPLY

Please enter your comment!
Please enter your name here

Artigos Relacionados

Congressos SOLACIspot_img

Artigos Recentes

COILSEAL: Utilização de coils na angioplastia coronariana: uma ferramenta de valor nas complicações?

A utilização de coils como ferramenta de oclusão vascular tem experimentado uma expansão progressiva, partindo de seu uso tradicional em neurorradiologia até incorporar-se ao...

Tratamento da reestenose intrastent em vasos pequenos com balões recobertos de paclitaxel

A doença arterial coronariana (DAC) em vasos epicárdicos de menor calibre se apresenta em 30% a 67% dos pacientes submetidos a intervenção coronariana percutânea...

Desafios contemporâneos na oclusão do apêndice atrial esquerdo: enfoque atualizado sobre a embolização do dispositivo

Embora a oclusão percutânea do apêndice atrial esquerdo seja, em geral, um procedimento seguro, a embolização do dispositivo – com uma incidência global de...