Terapia endovascular em stroke agudo, o debate não está encerrado 

Título Original: Mechanical Recanalization with Flow Restoration in Acute Ischemic Stroke. The Mechanical Recanalization with Flow Restoration in Acute Ischemic Stroke (ReFlow) Study. Referência: Christian Roth et al. J Am Coll Cardiol Intv 2013. Article in press.

O ativador tecidual do plasminogênio (tPA) administrado por via endovenosa tem provado reduzir a morbimortalidade nos pacientes com stroke agudo. Do subgrupo de pacientes (ptes) com oclusão de um grande vaso intracraniano, a trombolise consegue resultados favoráveis (escala de Rankin modificada ≤2) só em 15 a 25% dos casos. Estes ptes podem ser candidatos a um procedimento de tipo mecânico adicional, porém, não há evidencia até agora do benefício clínico disso. 

A técnica recentemente descrita, de recanalização com um dispositivo tipo stent tem resultados prometedores, tanto técnicos como clínicos, pelo que este estudo prospectivo teve como objetivo avaliar a factibilidade e segurança do método. Os ptes elegíveis foram aqueles que ingressaram dentro das 6 horas de iniciados os sintomas com um NIHSS (National Institutes of Health Stroke Scale) >10 e uma angiotomografia que descartasse hemorragia e objetivasse a oclusão de um vaso intracerebral maior. Dentro de uma janela de 4.5 h indicava-se o tPA e derivava-se o pte à sala de cateterismos. O critério de avaliação primário de eficácia foi a evolução clínica em 90 dias, medida com a escala de Rankin modificada, considerando boa evolução a um escore ≤2. O critério de avaliação de segurança foi a hemorragia intracraniana que produza uma piora do estado neurológico de 4 pontos na escala de NIHSS e a mortalidade de qualquer causa.

Entre 2010 e 2011 foram incluídos 40 ptes em um centro, que receberam tratamento endovascular utilizando o dispositivo Solitaire FR (ev3, Irvine, California). 80% ingressou dentro das 3 h de iniciados os sintomas e o restante 20% dentro das 4.5 h. Aos 90 dias 60% apresentou um escore de Rankin modificado ≤2. A transformação hemorrágica observou-se em 4 ptes, mas só em um considerou-se sintomático, pois foi associado com uma piora de 4 pontos na escala de NIHSS. A morte de qualquer causa foi 12.5%. A recanalização bem sucedida da artéria comprometida foi 95%.

Conclusão: 

O estudo ReFlow mostra que a recanalização com restabelecimento do fluxo é efetiva em pacientes cursando um acidente vascular cerebral isquêmico, que se apresentam dentro das 4.5 horas do início dos sintomas. É necessário um estudo randomizado que compare este dispositivo associado a tPA vs. tPA somente.

Comentário editorial: 

Bastante informação tem surgido nos últimos tempos sobre o tratamento endovascular agudo do acidente vascular cerebral isquêmico e, em geral, os resultados têm sido neutros. Neste trabalho observaram-se bons resultados clínicos, no entanto, a ausência de grupo controle impede uma análise mais profunda. A presteza com que os ptes foram tratados ( 80% dentro das 3 h e todos dentro das 4.5 h) é uma limitação do estudo já que lhe tira validade externa, mas por outro lado, nos mostra que é possível estar dentro dos tempos sugeridos pela guia quando há uma equipe treinada no controle do stroke.

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