O baixo fluxo no TAVI é um fator a levar em conta

Título original: Impact of Low Flow on the Outcome of High-Risk Patients Undergoing Transcatheter Aortic Valve Replacement. Referência: Florent Le Ven, et al. J Am Coll Cardiol 62;9:792-788

Um estado de baixo fluxo (índice de volume sistólico <35ml/m2) no contexto de estenose aórtica severa tem demonstrado ser preditor de pior prognóstico com a cirurgia, embora a evolução com tratamento médico nestes pacientes é ainda pior.  O impacto deste fenómeno na substituição valvular percutânea (TVAR) ainda não está totalmente esclarecido.

Analisaram-se em forma retrospectiva 775 procedimentos, incluídos os que foram realizados “valve-in-valve”, TVAR por outra indicação que não fosse estenose aórtica severa ou aqueles com laudos ecocardiográficos incompletos ficando finalmente 639 pacientes (ptes) para o estudo.

Estes foram divididos em 4 grupos de acordo com o gradiente e com o fluxo: fluxo normal (FN) com alto gradiente (AG) 195 ptes, FN com baixo gradiente (BG) 110 ptes, baixo fluxo (BF) com AG 158 ptes e BF com BG 176 ptes. Este último grupo por sua vez foi dividido de acordo com a fração de ejeção en dois, >50% e <50% com 86 e 90 ptes respectivamente.

A mortalidade em 30 dias resultou significativamente maior nos que apresentaram BF (11% vs 6% p=0.01).  Os preditores de mortalidade foram: sexo masculino, diabetes, a taxa de filtração glomerular, a hipertensão pulmonar e o índice volume sistólico

No seguimento médio a 12 meses foram observadas 207 mortes, das quais  125 foram cardiovasculares. Os que apresentaram baixo fluxo tiveram maior mortalidade que os de fluxo normal, tanto cardíaca como não cardíaca. No entanto, os que apresentaram fluxo normal com alto gradiente, fluxo normal com baixo gradiente ou baixo fluxo com gradiente alto apresentaram uma evolução similar. Entre os que combinavam baixo fluxo e baixo gradiente não houve diferenças na mortalidade total ou cardíaca em relação à fração de ejeção.

Conclusão:

O baixo fluxo é um preditor independente de mortalidade precoce e tardia logo do TVAR mas não a fração de ejeção ou o baixo gradiente. O índice del volume sistólico deveria ser integrado na estratificação de risco.

Comentário: 

Este estudo contribui outra variável a ser levada em conta no momento de realizar um TVAR. Embora a fração de ejeção não influiu no  seguimento, em muitos outros estudos sim foi relacionado com pior evolução.

Gentileza Dr Carlos Fava.
Cardiologista Intervencionista.
Fundação Favaloro. Argentina.

Dr. Carlos Fava para SOLACI.ORG

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