Angioplastia primária, uma corrida contra o relógio

Título original: Door-to-Balloon Time and Mortality among Patients Undergoing Primary PCI. Referência: Daniel S. Menees et al. N Engl J Med 2013;369:901-9.

Durante mais de uma década tem se dado importância, como se fosse uma corrida, aos tempos de retraso que se produzem nos hospitais até ser realizada a angioplastia no contexto de um infarto com supradesnivelamento do segmento ST. Vários estudos observacionais mostraram que diminuir os tempos na angioplastia primária reduz a mortalidade.

Este trabalho analisou 95007 pacientes que ingressaram com diagnóstico de infarto supradesnivelamento do segmento ST e que receberam angioplastia primária entre 2005 e 2009 em 515 centros.

A proporção de pacientes diabéticos, hipertensos e dislipidêmicos foi crescendo a cada ano do registro do mesmo modo que os pacientes com infarto prévio à angioplastia prévia.  Um 10% ingressou em choque cardiogênico e isso foi constante em todo o período. Globalmente 20% recebeu trombectomia e isso foi em aumento com os anos, de 13% em 2005 a 27% em 2009 (p=0.001).

Em 90% foi implantado stent sendo variável a relação entre stents eluidores de droga/stents convencionais com o passar do tempo. O pico de uso de stents farmacológicos foi durante o período 2005-2006 com 76.8% chegando a só 37.4% durante 2007-2008. 

Também diminuiu o uso de inibidores da glicoproteína IIB IIIA mas aumentou o uso de inibidores diretos de trombina. O tempo médio porta balão diminuiu de 83 minutos em 2005 e 2006 a 67 minutos nos últimos anos (p<0.001). Apesar desta diminuição nos tempos, globalmente a mortalidade sem ajustar não mudou mantendo-se ao redor de 4.7%. 

Quando foram comparados os pacientes nos quais a demora foi de menos de 90 minutos contra os que esperaram mais de 90 minutos a mortalidade resultou diferente (3.7% vs. 7.3% p<0.001). Não houve diferenças de mortalidade através dos anos nos subgrupos de >75 anos, infarto anterior ou choque cardiogênico.

Conclusão:

Embora o tempo porta-balão tem melhorado significativamente nos pacientes cursando um infarto com supradesnivelamento do segmento ST que recebem angioplastia primária, a mortalidade virtualmente não mudou. Estes dados sugerem que são necessárias estratégias adicionais para reduzir a mortalidade. 

Comentário:

Se bem que esta análise não mostra mudanças em forma global, ela demonstra que foi feito um esforço a través de diferentes publicações para diminuir os tempos de porta-balão e logrando uma diminuição da mortalidade nos que se realiza dentro dos 90 minutos, sem uma melhoria importante nos grupos de maior risco. Novas estratégias seguramente são necessárias para modificar a evolução nestes ptes.

Além do mais, é importante lembrar que a educação da população e a reação dos sistemas de saúde em resposta ao infarto agudo de miocárdio diminuiriam o tempo de chegada aos hospitais.

Gentileza Dr Carlos Fava.
Cardiologista Intervencionista.
Fundação Favaloro. Buenos Aires. Argentina.

Dr. Carlos Fava para SOLACI.ORG

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