Diferir o implante de stent na angioplastia primária poderia diminuir o risco de no-reflow e reduzir o tamanho do infarto.

Título original: A Randomized Trial of Deferred Stenting versus Immediate Stenting to Prevent No-or Slow Reflow in Acute ST-Elevation Myocardial Infarction (DEFER-STEMI). Referência: David Carrick et al. J Am Coll Cardiol. 2014. Epub ahead of print.

A fisiopatologia do fenómeno de no-reflow envolve a obstrução da microvasculatura secundária à embolização de trombo, espasmo ou trombose microvascular e ocorre em aproximadamente 10% das angioplastias primárias. A racionalidade de diferir o implante de stent durante a angioplastia primária consiste em tratar de reduzir o no-reflow dando à artéria um tempo para baixar a carga trombótica e recuperar a função microvascular. 

A hipótese do trabalho foi que uma vez recuperado o fluxo normal na artéria, diferir por umas 4 a 16 horas o implante de stent diminuiria o fenómeno de no-reflow. O protocolo de tratamento para diferir os pacientes incluiu a transferência para uma Unidade Coronária sob infusão continua de Tirofiban (0.15 ug/kg/min) somado a enoxaparina subcutânea (1 mg/kg c/12 hs) por até 16 horas. 

Dos 411 pacientes que receberam angioplastia primária entre março e novembro de 2012 em um centro, 101 foram randomizados a implante de stent imediato (n=49) ou a implante de stent diferido (n=52). 

A incidência de no/slow reflow pós implante de stent (desfecho primário) foi significativamente menor no grupo implante diferido (OR 0.16, IC 95% 0.04 a 0.59; p=0.006). A embolização distal e os eventos trombóticos intra procedimento também foram menos frequentes no grupo diferido. 

Nos pacientes do grupo diferido observou-se una significativa redução na evidência angiográfica de trombo entre o primeiro e o segundo procedimentos (98.1% vs. 62.7%; p<0.0001). Os desfechos secundários incluíam uma avaliação com ressonância magnética nuclear aos 2 dias e aos 6 meses pós infarto sendo observada uma maior massa ventricular esquerda salva com a estratégia de implante diferido. 

Dois pacientes randomizados à estratégia diferida apresentaram recorrência anginosa e elevação do segmento ST enquanto esperavam o segundo procedimento, em ambos foi realizada uma angioplastia de urgência sem complicações. O volume de contraste utilizado foi significativamente maior no grupo diferido (278 ml vs 205 ml; p<0.0001), embora isto não tenha se traduzido em uma maior taxa de nefropatia por contraste. 

Conclusão 

A estratégia de diferir o implante do stent reduziu a taxa de no-reflow e incrementou o percentual de miocárdio salvo comparado com a estratégia convencional de angioplastia primária com implante imediato de stent. 

Comentário editorial 

Esta mudança radical na estratégia não parece que pudesse ser aplicada a todos os pacientes referidos a angioplastia primária, de fato, só 25% dos avaliados foram finalmente randomizados. A seleção não é explicada somente pelos vários critérios de inclusão e exclusão que o trabalho tinha, mas também porque mais de um terço dos Cardiologistas do centro onde o mesmo foi realizado, simplesmente não randomizaram nenhum paciente. 

SOLACI.ORG

Mais artigos deste autor

Doença coronariana em estenose aórtica: dados de centros espanhóis em cirurgia combinada vs. TAVI + angioplastia

O implante valvar percutâneo (TAVI) demonstrou em múltiplos estudos randomizados uma eficácia comparável ou superior à da cirurgia de revascularização miocárdica (CRM). No entanto,...

Evolução das válvulas balão-expansíveis pequenas

Os anéis aórticos pequenos (20 mm) têm se constituído em um verdadeiro desafio, tanto em contexto de cirurgia como em implante percutâneo da valva...

TCT 2024 | FAVOR III EUROPA

O estudo FAVOR III EUROPA, um ensaio randomizado, incluiu 2000 pacientes com síndrome coronariana crônica ou síndrome coronariana aguda estabilizada e lesões intermediárias. 1008...

TCT 2024 – ECLIPSE: estudo randomizado de aterectomia orbital vs. angioplastia convencional em lesões severamente calcificadas

A calcificação coronariana se associa à subexpansão do stent e a um maior risco de eventos adversos, tanto precoces quanto tardios. A aterectomia é...

LEAVE A REPLY

Please enter your comment!
Please enter your name here

Artigos Relacionados

Congressos SOLACIspot_img

Artigos Recentes

Estudo TRI-SPA: Tratamento borda a borda da valva tricúspide

A insuficiência tricúspide (IT) é uma doença associada a alta morbimortalidade. A cirurgia é, atualmente, o tratamento recomendado, embora apresente uma elevada taxa de...

Estudo ACCESS-TAVI: Comparação de dispositivos de oclusão vascular após o TAVI

O implante transcatéter da valva aórtica (TAVI) é uma opção de tratamento bem estabelecida para pacientes idosos com estenose valvar aórtica severa e sintomática....

Tratamento endovascular da doença iliofemoral para melhorar a insuficiência cardíaca com FEJ preservada

A doença arterial periférica (EAP) é um fator de risco relevante no desenvolvimento de doenças de difícil tratamento, como a insuficiência cardíaca com fração...