Angioplastia superior ao tratamento médico ótimo em pacientes com isquemia demonstrada

Título original: Fractional Flow Reserve–Guided PCI for Stable Coronary Artery Disease. The FAME 2 Trial Investigators. Referência: Bernard De Bruyne et al. N Engl J Med 2014;371:1208-17.

O estudo FAME 2 testou uma hipótese similar à do estudo COURAGE, só que a decisão de revascularização foi  tomada com base na reserva fraccionada de fluxo (FFR) e não apenas a angiografia. A hipótese do trabalho foi  que utilizando FFR a angioplastia resultaria superior ao tratamento médico.

Foram avaliados 1220 pacientes com doença coronária crónica e estável nos quais foi realizada medição de FFR em todas as lesões visíveis por angiografia. Os pacientes que apresentaram pelo menos uma lesão com FFR ≤ 0.8 foram randomizados a angioplastia mais tratamento médico ótimo vs tratamento médico ótimo somente. Aqueles pacientes com todas as lesões com um FFR > 0.8 receberam tratamento médico e foram incluídos em um registro.

O end point primário foi  um combinado de morte por qualquer causa, infarto não fatal e revascularização urgente dentro dos 2 anos. Foi considerada revascularização urgente aquela realizada no contexto de uma internação por angina além das mudanças no eletrocardiograma ou a elevação enzimática.

O end point primário foi  significativamente menor no grupo angioplastia que no grupo tratamento médico (8.1% vs. 19.5%; HR 0.39; IC 95% 0.26 a 0.57; p<0.001). Esta diferencia foi  basicamente graças à menor necessidade de revascularização de urgência no grupo angioplastia (4.0% vs. 16.3%; HR 0.23; IC 95% 0.14 a 0.38; p<0.001) já que tanto a taxa global de mortes como de infartos resultaram similares nos dois grupos.

Ao realizar a análise desde o dia 8 pós angioplastia até os 2 anos, a taxa de morte ou infarto agudo de miocárdio resultou a menor no grupo angioplastia (4.6% vs. 8.0%, p= 0.04). Os pacientes que não apresentaram lesões significativas por FFR e foram incluídos no registro apresentaram uma taxa de end point primário de 9% a 2 anos.

Conclusão

Em pacientes com doença coronária estável, a angioplastia guiada por FFR mostrou melhores resultados que o melhor tratamento médico. Os pacientes sem isquemia demonstrada por FFR tiveram uma evolução favorável com tratamento médico.

Comentário editorial

A decisão de suspender o estudo  e publicar os dados em forma antecipada dado o excesso de revascularizações de urgência na rama tratamento médico foi  muito criticada e evitou que foram observadas diferenças em end point duros. O fato de que os pacientes não estavam cegos à sua anatomia coronária poderia ter baixado o limiar para revascularizar lesões com FFR ≤0.8 na rama tratamento médico.

Ao considerar os infartos a partir do dia 8 ficam excluídos aqueles produzidos no peri procedimento, o que é razoável desde que está claro que o valor prognóstico de um infarto espontâneo e um peri procedimento é muito diferente.

Outro dado importante é que a taxa de eventos entre a rama angioplastia e aqueles pacientes que foram ao registro por não apresentar lesões significativas por FFR foi  muito similar. Isto tem uma dupla mensagem: primeiro que a FFR discrimina bem as lesões, e que, além da impressão angiográfica é seguro adiar as lesiones com um FFR > 0.8, e segundo, que os pacientes com lesões com um FFR significativo tratadas com stents de segunda geração evolucionam tão bem quanto aqueles pacientes sem isquemia demonstrada.

SOLACI

Mais artigos deste autor

Revascularização coronariana guiada por iFR vs. FFR: resultados clínicos em seguimento de 5 anos

A avaliação das estenoses coronarianas mediante fisiologia coronariana se consolidou como uma ferramenta crucial para guiar a revascularização. As duas técnicas mais empregadas são...

TAVI em anel pequeno: que válvula devemos utilizar?

Um dos principais desafios na estenose aórtica severa são os pacientes que apresentam anéis valvares pequenos, definidos por uma área ≤ 430 mm². Esta...

ACC 2025 | WARRIOR: isquemia em mulheres com doença coronariana não obstrutiva

Aproximadamente a metade das mulheres sintomáticas por isquemia que se submetem a uma coronariografia apresentam doença coronariana não significativa (INOCA), o que se associa...

Pacientes com alto risco de sangramento após uma ATC coronariana: são úteis as ferramentas de definição de risco segundo o consórcio ARC-HBR e a...

Os pacientes submetidos ao implante de um stent coronariano costumam receber entre 6 e 12 meses de terapia antiplaquetaria dual (DAPT), incluindo esta um...

LEAVE A REPLY

Please enter your comment!
Please enter your name here

Artigos Relacionados

Congressos SOLACIspot_img

Artigos Recentes

SMART-CHOICE 3 | Eficácia e segurança da monoterapia com clopidogrel vs. aspirina em pacientes com alto risco após uma intervenção coronariana percutânea

Gentileza do Dr. Juan Manuel Pérez. Ao finalizar a duração padrão da terapia antiplaquetária dual (DAPT) posterior a uma intervenção coronariana percutânea (PCI), a estratégia...

Como se inscrever para a Bolsa SOLACI Research 2025? Vídeo com explicação passo a passo

Você já pode rever o evento virtual realizado no dia 09/04, no qual revisamos detalhadamente as etapas para se inscrever na Bolsa de Pesquisa...

Ensaio RACE: efeito da angioplastia com balão e riociguate na pós-carga e função do ventrículo direito na hipertensão pulmonar tromboembólica crônica

Embora a endarterectomia pulmonar seja o tratamento de escolha para a hipertensão pulmonar tromboembólica crônica (HPTEC), até 40% dos pacientes não são candidatos elegíveis...