A aterectomia rotacional é uma ferramenta muito importante para tratar lesões severamente calcificadas e não dilatáveis. Historicamente optou-se pelo acesso femoral devido à percepção de que era necessário contar com cateteres-guias de grande calibre para utilizar olivas que permitissem um “debulking” adequado.
Atualmente a aterectomia rotacional tornou-se uma técnica que visa a modificar a placa para uma posterior dilatação completa e bem-sucedida com balão e não tanto um “debulking” completo como se pretendia há alguns anos. Tal mudança na técnica permite utilizar olivas de menor calibre e, portanto, cateteres-guias compatíveis com a artéria radial.
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Entre 2005 e 2014 um total de 8.622 pacientes receberam aterectomia rotacional no Reino Unido. Em 3.069 destes pacientes foi utilizado o acesso radial e em 5.553 o acesso femoral.
Utilizou-se propensity score para equiparar as diferenças entre as populações.
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A mortalidade em 30 dias (desfecho primário do estudo) foi de 2,2% com acesso radial vs. 2,3% com acesso femoral (p = 0,76). O acesso radial não só se teve uma mortalidade equivalente, mas também demonstrou um sucesso do procedimento similar (OR 1,04; p = 0,73) e uma taxa de eventos cardiovasculares e cerebrovasculares maiores similar (OR 1,05; p = 0,72), ao fazer-se a comparação com os pacientes que receberam acesso femoral. As vantagens claras do acesso radial se plasmaram em um menor sangramento maior intra-hospitalar (OR 0,62; p = 0,04) e uma menor taxa de complicações relacionadas com o acesso (OR 0,05; p = 0,004).
Conclusão
Este é o trabalho da vida real que mais pacientes com aterectomia rotacional incluiu. Nesta população o acesso radial mostrou uma mortalidade e uma taxa técnica similar, mas diminuiu significativamente o sangramento menor e as complicações vasculares ao ser comparado com o acesso femoral.
Comentário editorial
A ausência de um benefício em termos de mortalidade poderia ser reflexo de a enorme maioria dos pacientes incluídos serem crônicos e estáveis.
Não se observaram inconvenientes para utilizar aterectomia rotacional por acesso radial apesar da histórica sensação dos Intervencionistas.
Um cateter-guia 6 Fr permite utilizar olivas de 1,25 ou 1,5 mm sem problemas, o que proporciona para a maioria dos vasos uma relação artéria/oliva de 0,5-0,6. Este tamanho de olivas cumpre o objetivo principal de modificar a placa e romper os anéis concêntricos de cálcio na maioria dos casos. No caso de ser necessária uma ablação mais agressiva com olivas 1,72 ou 2 mm é possível utilizar diretamente um cateter-guia 7 Fr que é compatível com a maioria das artérias radiais.
Título original: Radial Versus Femoral Access for Rotational Atherectomy. A UK Observational Study of 8622 Patients.
Referência: Jonathan Watt et al. Circ Cardiovasc Interv. 2017 Dec;10(12).
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