Os pacientes cursando uma síndrome coronariana aguda (SCA) que recebem uma pré-carga de altas doses de estatinas previamente à realização do cateterismo diagnóstico não parecem se beneficiar de dita estratégia.
No entanto, ao analisar somente aqueles pacientes que receberam revascularização mediante angioplastia (excluindo todos os que receberam cirurgia ou tratamento médico), o benefício aparece como uma redução de eventos maiores combinados. O benefício da pré-carga de atorvastatina parece estar conduzido por uma redução dos infartos não relacionados com o procedimento.
O SECURE-PCI, que foi apresentado nas sessões científicas do ACC 2018 e publicado simultaneamente no JAMA, deve ser interpretado globalmente como um estudo negativo onde o resultado a favor se constatou somente em um subgrupo de pacientes. Embora o anteriormente dito esteja pré-especificado no protocolo, deve ser entendido apenas como um gerador de hipóteses.
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O resultado é consistente com outros estudos pequenos e parece lógico que exista o benefício, especialmente naqueles pacientes com uma SCA em curso.
Estudos como o PROVE-IT e o IMPROVE-IT mostraram o benefício da terapia intensiva com estatinas dentro dos 7 dias de um SCA em pacientes tratados com angioplastia. O presente estudo reduz ainda mais a janela e começa o tratamento antes mesmo da revascularização. Poderíamos colocar em dúvida o fato de isso trazer algum benefício, mas o que nos deixa tranquilos do trabalho é que não foram observados efeitos adversos.
O SECURE-PCI se realizou em 53 centros do Brasil e randomizou 4.191 pacientes cursando um SCA e avaliados com angiografia a receberem uma carga de 80 mg de atorvastatina vs. placebo antes da angioplastia e 24 horas depois. Ambos os braços continuaram com 40 mg de atorvastatina após a segunda dose de medicação.
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Quando se realiza a análise de somente os 2.710 que finalmente receberam angioplastia observa-se que a pré-carga de atorvastatina se associou a uma redução de 28% dos desfechos combinados em comparação com o placebo (p = 0,02) e uma redução de 32% do risco de infarto (p = 0,04), incluindo 58% de redução dos infartos não relacionados com o procedimento.
Título original: Effect of loading dose of atorvastatin prior to planned percutaneous coronary intervention on major adverse cardiovascular events in acute coronary syndrome: the SECURE-PCI randomized clinical trial.
Referência: Berwanger O et al. JAMA. 2018; Epub ahead of print.
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