As troponinas ultrassensíveis fizeram com que tudo fosse considerado infarto; a 4ª definição universal esclarece as coisas

Infarto do miocárdio ou injúria miocárdica? A 4ª definição universal de infarto (uma atualização da definição de 2012) chega para deixar claro que nem todas as elevações das troponinas cardíacas representam um infarto agudo do miocárdio.

Sorpresivo pronóstico para los infartos con coronarias normalesEsta atualização foi apresentada há poucos dias durante o congresso da ESC em Munique e simultaneamente publicada no Eur Heart J.

 

Esta é a primeira atualização desde a definição de 2012 e foi realizada por um grupo de especialistas que representaram a ESC, AHA, ACA e WHF. A atualização faz uma diferença explícita entre infarto agudo do miocárdio (requer a elevação de marcadores e evidência de isquemia) e injúria miocárdica, onde se produz uma elevação de biomarcadores de causa não isquêmica.


Leia também: ESC 2018 | CLARIFY: Não há benefício na sobrevida com betabloqueadores no seguimento de um ano após infarto.


A elevação de marcadores não isquêmica pode ser produzida por insuficiência cardíaca, miocardite, ablação por cateter, contusão cardíaca, sepse, insuficiência renal crônica ou inclusive exercício extremo. Este documento realmente investiu muito esforço em esclarecer a diferença entre injúria miocárdica não isquêmica e infarto agudo do miocárdio.

 

A classificação original de infarto agudo do miocárdio descrita em 2007 identificava 5 tipos. Esta nova versão abre a discussão a diferentes subtipos e fornece figuras e fluxogramas para ajudar o diagnóstico entre infarto e injúria miocárdica.

 

O impacto dessa definição universal reside no fato de muitos pacientes serem por nós rotulados como sujeitos cursando um infarto agudo do miocárdio quando se tratava somente de uma elevação de troponinas e, por outro lado, pequenas elevações de troponina que eram realmente de causa isquêmica foram subestimadas e deixadas sem tratamento pela errônea interpretação de que estava tudo bem.


Leia também: Infartos durante a copa do mundo, um velho artigo que vale a pena recordar.


Os guias são somente uma peça do quebra-cabeças que fazem com que a medicina seja muito mais padronizada que há 50 anos, mas é importante lembrar que entre os guias e os pacientes estão os médicos que os escrevem e os médicos que os interpretam, e ambos devem continuar utilizando seu bom senso para tratar os pacientes. Nenhum guia da prática clínica – por mais completo e claro que seja – vai transformar os médicos em autômatos incapazes de tomar decisões próprias.

 

Título original: Fourth universal definition of myocardial infarction (2018).

Referência: Thygesen K et al. Eur Heart J. 2018; Epub ahead of print.

 

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