Suplementos alimentares e dietas que não modificam o risco cardiovascular

Os americanos gastam bilhões em suplementos alimentares a cada ano, mas a verdade é que, segundo a evidência de um recente trabalho publicado no Ann Intern Med, esse dinheiro está mal-empregado.

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De acordo com esta grande análise e revisão sistemática de vários estudos randomizados, a grande maioria das intervenções sobre a dieta e os suplementos nutricionais, incluindo multivitaminas, selênio e antioxidantes não diminuem o risco cardiovascular ou a mortalidade.

Foi observado um modesto benefício na redução do consumo de sal e nos suplementos de ácidos graxos poli-insaturados ômega-3 e ácido fólico.

Por outro lado, a combinação de cálcio e vitamina D parece incrementar o risco de AVC.

Apesar das recomendações das diretrizes e de diferentes sociedades sobre a insuficiente evidência para recomendar os suplementos em questão, a realidade é que um de cada 2 americanos consume algum tipo de vitamina ou suplemento alimentar, e a proporção aumenta com a idade.


Leia também: Exercício supervisionado e revascularização para claudicação intermitente.


Dada esta realidade, os pesquisadores quiseram contribuir com evidência de qualidade que testasse o efeito dos suplementos nutricionais, e para isso incluíram 9 revisões sistemáticas e 4 estudos randomizados, com um total de quase um milhão de participantes. Os dados incluíram os estudos VITAL e ASCEND, que pesquisaram a vitamina D e os ômega-3.

Globalmente, foi possível encontrar certa evidência de que reduzir o consumo de sal tem um efeito modesto sobre a mortalidade global em pessoas com tensão arterial normal (RR 0,90; 95% CI 0,85-0,95) e mais significativo sobre a mortalidade cardiovascular em sujeitos hipertensos (RR 0,67; 95% CI 0,46-0,99).

Adicionalmente, observou-se evidência de “baixa certeza” que sugere que os ácidos ômega-3 reduzem o risco de infarto e doença coronariana.

Também com “baixa certeza” o ácido fólico parece diminuir o risco de AVC, embora este benefício tenha sido conduzido basicamente por um único estudo realizado na China.


Leia também: Muitas diretrizes, muita confusão. Objetivos de pressão arterial em idosos.


Finalmente, e com “certeza moderada” o suplemento de cálcio e de vitamina D aumentariam o risco de AVC (RR 1,17; 95% CI 1,05-1,30).

Nenhum outro suplemento, incluindo vitaminas A, complexo B, C, D ou E, antioxidantes, ferro ou outras intervenções na dieta (incluindo reduzir o teor de gordura) têm impacto sobre a mortalidade ou os eventos cardiovasculares, nem para bem, nem para mal.

A maioria das pessoas está desperdiçando seu dinheiro em vitaminas quando compram suplementos vitamínicos na farmácia. Seria muito mais racional e barato comprar as vitaminas na frutaria.

A surpresa foi a falta de impacto da “dieta mediterrânea” considerando os resultados do estudo PREDIMED, que sugerem o benefício de uma dieta rica em verduras, grãos integrais, nozes e azeite de oliva. Os pesquisadores do presente trabalho especulam que os resultados desse trabalho podem ter sido contrabalançados com os de outros estudos cujo resultado foi nulo.

Título original: Effects of nutritional supplements and dietary interventions on cardiovascular outcomes: an umbrella review and evidence map.

Referência: Khan SU et al. Ann Intern Med. 2019;171:190-198.


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