AHA 2019 | Impella: o revolucionário dispositivo começa a ser questionado

Estudos observacionais (com suas subentendidas limitações) mostram um possível aumento dos eventos adversos e dos custos com o uso do dispositivo Impella. 

Impella

Dois grandes estudos observacionais semearam dúvidas sobre quão bem se desempenham os novos dispositivos de suporte circulatório na prática clínica diária do “mundo real”.

Mais eventos adversos, incluindo morte intra-hospitalar e sangramentos maiores, bem como maiores custos com o dispositivo Impella de assistência ventricular esquerda vs. o clássico balão de contrapulsação intra-aórtico. 

Obviamente estes dados devem ser tomados com precaução devido às grandes limitações metodológicas dos trabalhos, mas a questão é que eles nos levam a pensar mais conscienciosamente sobre quando utilizar o dispositivo e em que pacientes.


Leia também: AHA 2019 | Sapien vs. Evolut: parece ineludível um estudo randomizado cabaça a cabeça.


Um dos trabalhos – apresentado no congresso da AHA 2019 e simultaneamente publicado no Ciculation – incluiu a incrível quantidade de 48.306 pacientes que receberam angioplastia com dispositivo de suporte circulatório em 400 centros. Dentre todos os dispositivos utilizados como suporte, 9,9% corresponderam ao Impella, mas o número cresceu com os anos, chegando a 31,6% em 2016. O Impella foi menos usado em pacientes em estado mais crítico (ventilação mecânica, choque cardiogênico ou parada cardíaca) e foi mais usado nos pacientes relativamente menos doentes. 

Houve uma grande dispersão na utilização e nas complicações entre os diferentes centros. Por exemplo: a taxa de sangramento chegou a ter uma variação de mais do dobro entre alguns hospitais e outros, ao passo que a taxa de morte, injúria renal aguda e AVC variou em até 50% entre os diferentes centros. 

Em termos de custo monetário, o Impella foi mais oneroso ao longo de todo o estudo em comparação com o balão de contrapulsação intra-aórtico. 


Leia também: AHA 2019 | COMPLETE: a revascularização completa é superior por tratar outras placas vulneráveis.


Utilizou-se o propensity score para comparar as populações, ficando o Impella associado a uma maior taxa de mortalidade (OR 1,24; IC 95%: 1,13-1,36), de sangramento (OR 1,10; IC 95%: 1,00-1,21), de AVC (OR 1,34; IC 95%: 1,18-1,53) e a uma tendência não significativa a maior taxa de injúria renal aguda (OR 1,08; IC 95%: 1,00-1,17).

Esta comparação utilizando propensity score também pode ser questionada a partir do ponto de vista metodológico devido à grade dispersão das variáveis nos diferentes centros que utilizamos o dispositivo. 

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Título original: The evolving landscape of Impella use in the United States among patients undergoing percutaneous coronary intervention with mechanical circulatory support.

Referência: Amin AP et al. Circulation. 2019; Epub ahead of print.


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