Continuam – e continuarão – surgindo dados do ISCHEMIA. Agora os novos dados mostram diferenças significativas entre homens e mulheres no que se refere à severidade da doença e sua correlação com os sintomas. As mulheres apresentam mais angina do que os homens, mas a extensão da isquemia é menor.
Estes achados foram apresentados de forma virtual no suspenso ACC 2020 e sugerem que outros fatores, além da doença epicárdica obstrutiva, poderiam ter um papel no panorama geral.
Por que as mulheres têm mais sintomas? Uma explicação reducionista poderia ser que elas têm um limiar de dor diferente, mas poderia haver outros fatores em jogo. Há muitas hipóteses muito interessantes (especialmente para ler em quarentena), desde diferenças na inervação do miocárdio até diferenças na função endotelial, passando pela função da microvasculatura. Há, inclusive, estudos que sugeriram que o estresse emocional provavelmente seja gatilho de isquemia nas mulheres e que isso não esteja relacionado com a doença epicárdica.
Independentemente da resposta, uma coisa é evidente: as mulheres se comportam de maneira diferente dos homens no que diz respeito à isquemia e seus sintomas. Por agora, trata-se de informação velha que surge de um novo estudo. A questão é que essa informação velha tinha múltiplas variáveis de confusão que o estudo ISCHEMIA não tem.
O ISCHEMIA randomizou 5179 pacientes a una estratégia invasiva de coronariografia seguida de revascularização se fosse necessário, somada ao melhor tratamento médico vs. uma estratégia inicialmente conservadora com tratamento médico ótimo unicamente.
A randomização foi realizada com uma angiografia por tomografia cega para os pesquisadores que descartou a doença de tronco da coronária esquerda (ou doença de severidade comparável), mas ao mesmo tempo confirmou a presença de doença coronariana.
Entre as 2262 mulheres e os 6256 homens avaliados no trabalho (nem todos foram randomizados, o que explica a diferença no n), as mulheres apresentaram mais frequentemente doença não obstrutiva que os homens (34% vs. 11%; p < 0,001). Foi definida como doença obstrutiva a lesão de ao menos 50% em qualquer vaso epicárdico. Como um dos critérios de inclusão do trabalho era a presença de doença obstrutiva a inclusão de mulheres foi muito menor.
Na coorte que foi randomizada, as mulheres apresentaram menos isquemia nos estudos de estresse, uma diferença conduzida por aqueles pacientes que foram submetidos à câmara gama. O ecocardiograma sob estresse não mostrou diferenças de isquemia entre os sexos.
Apesar da menor quantidade de doença obstrutiva e da menor severidade da isquemia na câmara gama, as mulheres relataram uma quantidade significativamente maior de sintomas. Em comparação com 37% dos homens, somente 27% das mulheres relatou estar livre de sintomas (p < 0,001). Na análise multivariada o sexo feminino foi um fator preditor independente de angina (OR 1,41; 95%: CI 1,13-1,76).
Título original: Sex differences in severity of coronary artery disease, ischemia, and symptom burden in patients with moderate or severe ischemia: insights from the ISCHEMIA trial.
Referência: Reynolds HR et al. ACC 2020 virtual.
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